Nazismo à brasileira

CREPÚSCULO DA LEI – ANO III – CLII

 

NAZISMO À BRASILEIRA

O Brasil é o “locus” dos paradoxos. Não se tem notícia de nenhum outro país em que a plutocracia tenha tanto ódio aos pobres – aporofobia – quanto aqui. Da mesma forma, é difícil encontrar outro país em que os pobres ofereçam tanta bajulação aos ricos quanto nestas plagas. 

Seria o caso de uma “autoxenofobia” – perdoe Guimarães Rosa – perpassada por uma “mesmontropia”  do descalabro “ensimesmado”.

Fazia tempos – meio século – que a classe (bem rica) dominante não se divertia tanto com a pobreza sem o incômodo da lei para atrapalhar, afinal, todos os aparelhos de repressão estão a serviço dela. Seguramente, a plutocracia não está economizando risadas ao jocoso “play” xenofóbico de matar, roubar, corromper, sonegar impostos, fazer evasão de ganhos, tomar terras, desmatar, matar mais ainda, e ainda, e ainda. Tudo sem nenhum incômodo ou tabu, mesmo diante do totem de 600 mil vidas “indignas de serem vividas” que se fez por deixar morrer.

Para esse jogo da morte não faltam praticantes na aberração do atual governo, e muitos deles – alguns semidemitidos  – admiradores do nazismo e sua escabrosa “solução final”.

A solução final nazista consistiu numa “graciosa” inventividade hitlerista, levada a cabo pelos oficiais Hydrich e Himmler, comandantes dos Einsatzgruppen devidamente preparados para o extermínio de testemunhas de Jeová, ciganos, negros, homossexuais e, principalmente, judeus. Claro, todos passaram pelos portões do “Arbeit Mach Frei” – o trabalho liberta – antes de chegarem às famigeradas câmaras de gás.

Por aqui o lema é “a verdade liberta e a cloroquina salva”.  No caso brasileiro há um paradoxo importante – não esquecer que esse é o país dos paradoxos – que envolve a história presente, sendo televisionada. Sim, é uma história “agorificada” (perdão, Guimarães, novamente) pela CPI do Senado Federal que investiga a covid.

Não há como não ficar estarrecido com os crimes apurados por aquela Comissão, sem que nenhum órgão encarregado de fiscalizar tais crimes se manifeste  publicamente “ex officio”, nem muito menos em solidariedade ou apoio.

Nesse extermínio brasileiro tem até vítima sobrevivente esclarecendo como conseguiu escapar do “campo de concentração”, ou melhor, do campo de medicação, onde o objetivo era eliminá-lo nos moldes da solução final. Trata-se da vítima Tadeu Frederico de Andrade, 65 anos, o qual prestou depoimento no dia 07/10 e esclareceu como conseguiu sobreviver à “trama macabra” da qual foi vítima, inclusive indicando como a organização criminosa responsável atuava. Falou aos prantos, já que outras vítimas não tiveram a mesma sorte.

É claro que as proporções dos campos de concentração nazistas foram bem maiores, mas o que a CPI do Senado vem mostrando, e comprovando, é que o espírito – “geist” – do extermínio é exatamente o mesmo, ou seja, uma solução final para incautos e vulneráveis, mediante um discurso lesivamente legitimado por falsidades, e que persiste, persiste, persiste.

Na Alemanha, os responsáveis foram condenados em Nuremberg. Sem perdão, sem paradoxo.

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