Navegar é preciso

Laiz Soares

Às vezes, que não são poucas, me dá uma vontade de desistir da política, ir cuidar da minha vida e deixar o desafio na mão daqueles que já estão por aí, dos que acham fácil estar neste lugar porque sua alma e seu caráter se adaptam com facilidade ao clima pesado de guerra pelo poder. Não estou acostumada com esse ambiente, muitas vezes não me sinto bem nele. Não cresci nem fiz carreira rodeada de pessoas que, mesmo incompetentes, sobem e chegam ao poder, ou outras pessoas que negociam com facilidade seus supostos valores por conveniência. Eu sei que essa não é a realidade de todos os políticos, temos boas e muitas exceções, mas na média é esse o ambiente que ainda impera, infelizmente.  

Lutar contra a ignorância, o oportunismo e o obscurantismo é muito cansativo, é como nadar em uma piscina bem gelada no inverno, é doloroso. Contudo, é muito grande no meu coração a vontade de deixar um legado e fazer a mudança na vida das pessoas, de lutar por justiça social e ir tirando do poder uma a uma essas pessoas que fazem da política no Brasil um lugar hostil. É por isso que não dá para ir sem apoio, e sou grata a todos que me fizeram chegar até aqui e não desistir, apesar de ter tido vontade. Uma das maiores ajudas que eu tive foi ter participado do Vamos Juntas, um programa que a deputada Tabata Amaral, de quem eu fui coordenadora de campanha e chefe de gabinete, criou para apoiar mulheres candidatas no país todo. Cada candidata tinha um mentor, alguém experiente que pudesse acompanhá-la em seu processo eleitoral, ajudando com conselhos e não deixando que a candidata desistisse. Sinto uma gratidão enorme por ter tido esse presente de participar de um projeto tão incrível que me ajudou tanto. 

Nesta semana um fato muito relevante me emocionou e me relembrou todos os momentos difíceis que vivi ano passado: ver a senadora Simone Tebet ser a primeira mulher candidata à Presidência do Senado em 190 anos de existência do Senado Federal. Senadora a quem eu tenho a honra e o presente de chamar minha mentora, oportunidade muito especial que eu tive e considero um presente. Na disputa por um cargo de extrema relevância e poder na República, Simone tinha uma batalha injusta pela frente, já que suas “armas” não eram as mesmas do seu adversário, batalha bastante cruel porém não inglória. Ela e uma minoria valente de senadores independentes, como Alessandro Vieira, precisavam vencer um candidato que fez uma construção fisiológica e que unia PT e Bolsonaro apoiando uma mesma candidatura. Nem PT nem o governo queriam ver alguém com perfil da Simone chegar ao poder, o que representaria um risco aos seus interesses e um avanço imensurável para o país no enfrentamento da pandemia, combate às desigualdades, reformas estruturantes para o desenvolvimento econômico e, claro, no combate à corrupção. “Não tenho cargos nem emendas extraordinárias a oferecer, e sim apenas o trabalho em conjunto para representarmos o Brasil e mostrarmos um novo caminho para a nossa população”, disse Simone.

Tudo que foi dito ali veio da alma, e por isso calou o plenário em um silêncio impressionante e “catedrático”, como ela mesmo definiu. Um discurso de estadista, de uma verdadeira líder apaixonada por este país, corajosa e idealista, fiel aos seus valores e à ética custe o que custar, já que a ética não faz curvas, ela é uma linha reta, como sempre diz. A primeira mulher que foi candidata à presidência do Senado brasileiro me ensinou muito, e  eu tenho obrigação de passar isso adiante por meio de projetos que criei, como a Escola de Líderes, e transformar tanta inspiração em resultados para a nossa cidade, nosso estado e nosso país. Eu me lembrarei sempre dos seus conselhos riquíssimos, da sabedoria e inteligência incontestável, do brilho no olho e do caráter exemplar dessa mulher que me inspira tanto. A emoção que eu senti ao ver o seu discurso me fez concluir que desistir da política está fora de cogitação para mim. 

Navegar é preciso. Viver de forma inglória é que não é preciso. Simone disse, parafraseando Fernando Pessoa, que o viver que se acovarda e que se intimida é dispensável. “O viver que se curva e coloca interesses pessoais à frente da vida de 210 milhões de brasileiros, esse não é preciso.” Entre as falas de Simone Tebet no seu discurso oficial, ela mencionou seu saudoso pai, um grande e respeitado político, ex-senador Ramez Tebet. “Meu pai, aquele que me inspirou e me levou nas minhas primeiras caminhadas políticas, dizia: ‘Vi e aprendi que uma disputa não se ganha levantando-se o tom, como a força de um berrante, e sim com a força do argumento. Se não dá para ganhar no argumento, e sim no grito, ou nos conchavos não republicanos, a vitória é inglória, e viver para isso, não é preciso.

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