Natal Superlativo

Antônio de Oliveira

Quando se espera que o tempo passe rápido, num vapt-vupt, pedimos um minutinho, um segundinho, um tempinho. Quando demora, quando muito dizemos um tempão, não um minutão, nem minutíssimo, nem minutaço, à semelhança de um golaço. Minuto seria uma palavra de significação plena, minuto é minuto, matematicamente nem mais nem menos do que a unidade de medida igual a 60 segundos.

Podemos viver, num só dia, um ano de emoções. Um minuto, para nós, pode durar uma eternidade. Além disso, tratando do “homem cordial”, em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda escreveu que a terminação “inho”, aposta às palavras, serve para nos familiarizar com as pessoas ou os objetos. Associa-se também com o tempo psicológico e com a faixa etária.  O sufixo “inho” pode nos distanciar da razão, mas nos aproxima do coração.

E não é que diminutivo pode virar superlativo? Hoje em dia se abusa do prefixo super, mega, mega super... Santa Teresinha, diminutivo de Teresa, em francês é la petite sainte Thérèse, diminutivo analítico. Pequena santa significando grande santa... Coisas da linguagem. Sabores da língua que, à semelhança dos sabores, apreciamos devagarinho... Degustando.

Nasceu-nos um menino, pobrezinho nasceu em Belém. Uma criança vai dividir a história, antes e depois, e unir os corações. Natal é festa maior, superlativa de criança. Não celebra um ditador que dita a dor, mas uma criança que ressignifica a dor e a transforma em amor. Natal, festa da cumeeira, do topo. Do alto vem a mensagem: paz na terra! E paz se constrói com justiça social, com políticas públicas e poder público a serviço do público. Não dos próprios interesses.

O adjetivo “supremo”, por exemplo, não está no superlativo, é superlativo. Significa: “que está acima de tudo, súpero, derradeiro, último, extremo, sumo; referente a Deus”. No entanto, Natal é festa, apologia da manjedoura. Ode ao despojamento. Humanos devaneios de empáfia nada significam. “Adeste, fideles. Adoremus!...”

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