Não deixe o ter te ter. Seja eterno

Carlos Alves Araújo

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena” (Fernando Pessoa)

“O ter e o ser não são incompatíveis”. (Charlie Chaplin)

Você saiu do útero materno, lugar mais tranquilo para se morar, e aos poucos viu que sua alma não poderia ser pequena. O mundo foi lhe cobrando uma estadia significativa. “Eu tenho que ser a transformação que quero ver no mundo” (M. Gandi). Você não pode esperar debraços cruzados. Braços cruzados nunca. Em Divinópolis, tempos atrás, um prefeito que fez uma transformação no centro da cidade fez rede esgoto, asfaltou as principais ruas do centro e deu melhorias aos bairros que surgiam na época. Não preciso falar seu nome porque ele está vivo nas pessoas de sua época, apesar de ter morrido tragicamente em um acidente. Ele não era imortal, mas se tornou eterno dentro das pessoas amigas e admiradoras de suas obras. Seu planejamento, sua garra e seu suor fixaram sua imagem para sempre no coração das pessoas contemporâneas.

Muitos se preocupam em ser famosos. O perigo é querer ser famoso sem ser importante. Pois a sua sobrevivência está ligada à importância que você passa a ter para sociedade, família e amigos. É o não deixar a vida ficar pequena. Não se pode deixar morrer a vontade de continuar vivendo.  É preciso sempre dar um passo à frente. Segundo Albert Schweitzerr, “a tragédia não é quando um homem morre. A maior tragédia é aquilo que morre dentro de um homem enquanto ele está vivo”.

A nossa política, quase toda, se preocupa em ser imortal, ter todas as regalias e o dinheiro possível e impossível. O ambiente político brasileiro tornou-se um útero materno – local em que a vida é a mais tranquila. Recebe tudo e tem o líquido dinheiro público para nadar e o cordão umbilical que o alimenta de tudo de que precisa. Perder esse útero é ter que lutar como os outros. Poucos se preocupam em ser eternos.

Imagino que a alegria de um ladrão é muito superficial. Tenho dó dos filhos dos políticos ladrões, pela vergonha que passam. Tipo a piada do Joãozinho, que preferia ter um pai gay travestindo-se numa boate do que falar para a turma que seu pai era deputado federal em Brasília.

A nossa salvação é que entre esses ladrões existem uns que são bons, aqueles que vão se tornar eternos. Para isso a amizade e o trabalho são conditio sinequa non. “Eu poderia, embora não sem dor, perder todos os meus amores, mas morreria se perdesse todos os meus amigos”.  Nestas palavras de Vinícius de Morais pode se formar o valor que tem uma amizade. Nela é que você monta sua importância. Você precisa saber quem você é e o que veio fazer aqui. Você, sabendo e exercendo seu papel histórico, será importante e ficará nos corações dos amigos.  Você continuará vivendo. Se tornará eterno.

Carlos Alves Araújo é palestrante.

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