Nada é perfeito

Dona Clemilda tem 89 anos. Até os 85, era uma mulher serelepe, com total controle da situação, apesar de a família nunca ter sido de muita paz. Gostava de acender o forno com frequência para assar biscoito, broas e roscas, criar galinha, porcos, enfim, mantinha a mesa sempre farta, onde familiares e visitantes se deleitavam.

De repente, adoeceu de maneira grave, chegou a ouvir São Pedro malhando o sino ao anunciar sua chegada à porta do paraíso. Mas, como disse a poetisa Áurea Venâncio, o Criador lhe concedeu tempo, para mais tempo viver. Hoje, fisicamente reabilitada, come bem e anda sem nenhum amparo. No entanto, tem dificuldade para escutar, pergunta assiduamente pelas pessoas que já morreram, com um agravante: deu para fugir de casa, o que obriga o portão a estar sempre trancado.

Em visita à sua residência, garantiu-me que está ótima, com uma saúde de ferro. Uma das filhas, que não tem a mesma opinião, comentou: “O problema da mamãe é que ela está muito velha, perto do fim”. Isso Dona Clemilda escutou muito bem e rebateu: “Eu não estou velha, não. Eu sou é idosa, mas muito jovem para morrer”. O riso dos que estavam na sala foi inevitável.

Não é o caso da Dona Clemilda, mas muitos idosos resolveram parte dos seus problemas irmanando-se aos “Clubes da Terceira Idade”. Nesse espaço podem dançar, cantar, jogar, compartilhar alegrias e tristezas. Todos ali têm histórias parecidas. Saber que seu problema não é o único dá aquela força, e desperta o desejo de continuar vivendo com lucidez e disposição, o maior tempo possível.

Infelizmente, marido, mulher, filhos ou netos não são garantia de amparo na velhice. Por isso, a cada dia, os idosos têm de criar formas de serem mais independentes, senhores de si. Às vezes, fico a pensar: como será a minha velhice?

Hoje de manhã, no entanto, tal qual Narciso, olhei-me demoradamente no espelho. Cheguei à doce conclusão de que não mudei nada nos últimos 20 anos, já que a minha beleza e formosura continuam intactas. Se eu conseguisse me livrar de algumas poucas gorduras localizadas, do problema de coluna, da pressão alta, da alergia e do colesterol, que teima em se manter acima da média, eu não teria do que me queixar. Porém, bem sei que neste mundo nada é perfeito.

A propósito, o Lar dos Idosos iniciou ontem o tríduo da festa de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus Cristo, com missas às 19h30. No sábado, a missa festiva está marcada para as 19 horas, sob presidência de Dom José Carlos. E no domingo, às 13h30, a missa será em comemoração aos 49 anos de fundação do Lar dos Idosos. Em todos os dias, haverá barraquinhas após as missas. Vale a pena conferir.

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