Mulher não gosta de apanhar

Laiz Soares - Mulher não gosta de apanhar

Sempre lutei e lutarei pelo direito de as mulheres serem dignas, livres e respeitadas. Mulher, quando apanha, sofre. Mulher não apanha porque quer. Muitas não conseguem sair do relacionamento abusivo por violências psicológicas que geram dependência e por questões práticas e econômicas, como não ter independência financeira e por preocupação com o futuro dos filhos. A violência doméstica destrói famílias, traumatiza e impacta no desenvolvimento emocional e social de milhões de crianças e é um problema que prejudica toda a sociedade, e não somente a mulher que sofre aquela agressão.

O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres. No dia 7 de agosto a Lei Maria da Penha completa 16 anos. Maria da Penha, que deu nome à lei, é farmacêutica e tomou um tiro do marido que a deixou paraplégica. Ela lutou anos para conseguir justiça e o seu ex-marido só foi preso porque a Organização dos Estados Americanos (OEA) foi acionada por ONGs brasileiras. Graças ao seu ativismo e sua luta, hoje o Brasil tem uma lei que protege as mulheres de agressão. Com vários desafios na sua implementação, como ausência de aparelhos de suporte como casas de acolhimento às visitas, a Lei Maria da Penha é considerada uma das melhores do mundo e prevê inclusive uma reabilitação do agressor para evitar que ele seja reincidente e volte a agredir mulheres. 

De acordo com o Fórum de Segurança Pública, em 2020 houve 700 mil telefonemas de mulheres com pedidos de socorro por causa de violência doméstica, 100 mil a mais que em 2019. O número é preocupante, e, com a pandemia, se tornou ainda mais desesperador. 1 em cada 4 mulheres acima de 16 anos dizem ter sofrido violência doméstica. Desde 2015 vem caindo consideravelmente o investimento em políticas públicas para combate à violência doméstica. 

Há uma série de fatores que explicam a gravidade destes números, e um deles é o machismo estrutural e a masculinidade tóxica. Frases como: “Quanto mais bate mais apaixonada”, “Mulher apanha porque gosta”, “Mulher de malandro que gosta de sofrer” e coisas do tipo só pioram e reforçam o ciclo de violência. As mulheres são vítimas, e não as culpadas. Colocar a vítima como culpada é também uma forma de opressão e de violência. É o famoso “Mas que roupa ela estava usando para ter sido estuprada?”, “Mas o que será que ela fez com ele para ter merecido apanhar?”. Isso é abominável, criminoso, uma aberração que não podemos mais tolerar que seja reproduzida. 

Mas o que é essa masculinidade tóxica tão presente em nossa sociedade?  Masculinidade é uma junção de características que a sociedade destaca em um homem. Ou seja, para um homem ter valor na sociedade, ele precisa provar sua masculinidade a todo momento. Em síntese, ter masculinidade é ser forte. Entretanto, a forma como muitos pais ensinam aos filhos a mostrarem essa força é que é o problema: por meio da violência, da raiva, dos impulsos. A sociedade ensina aos homens que ser homem é ser agressivo.

O pesquisador Osmundo Pinho explica o conceito de masculinidades: “Em termos estritos, a masculinidade é uma performance política de poder, que investe em alguns corpos assinalados como ‘masculinos’ prerrogativas de poder que refletem a forma como as sociedades ocidentais têm construído a si próprias por meio de uma lógica que faz do corpo fundamento do poder”, explica. O pesquisador disse também que a masculinidade “não é natural, nem unívoca, mas produzida em contextos históricos e reproduzida ritualmente no cotidiano”. 

 

 

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