Meus velhos carnavais

No seu maravilhoso livro “Lanternas ao longe”, best-seller com mais de um bilhão de exemplares vendidos em todo o planeta, Dona Mariquita enfatiza: “Quem fica remoendo o passando é porque perdeu perspectiva de futuro”. No entanto, humildemente, peço vênia para discordar da estimada mestra neste ponto, pelo menos por hoje, para que eu possa recordar os meus velhos carnavais.

A atual profusão de informações, de todos os lados, deixa as pessoas perdidas, sem saber em que acreditar ou valorizar. A geração atual acha que carnaval em Divinópolis é isso que viram no último fim de semana. Não, esse negócio de bloco é algo totalmente novo, porém, há de se reconhecer o mérito dos organizadores. Organizar um evento com tanta gente envolvida, com participação de foliões, curiosos e de pessoas que comparecem apenas com o intuito de atrapalhar é uma tarefa hercúlea.

Mas, por hoje, somente hoje, quero lembrar ao estimado leitor, à querida leitura, de que eu já fui uma estrela. Minha ascensão carnavalesca começou como pajem da rainha em 1978, na Escola de Samba Unidos do Divino, do saudoso Jorge Miranda, quando fui par com Helena Alvim. A partir de 1980, fiz carreira na Escola de Samba Tupi, do inesquecível Nonô, em que tive a oportunidade de ser o estilista de mim mesmo e também de alguns amigos.

Em 1982, o clímax: recebi meu primeiro troféu como principal destaque da folia de Momo, provocando efusivos aplausos dos admiradores e a ira dos invejosos. Naquela época, a competente agência de pesquisas “Olhos nos Olhos”, de Patrik Ramon, constatou desde o primeiro dia que não tinha para outro: o meu reinado estava consolidado, embora houvesse vozes discordantes, apenas por despeito.

Recordo, com gratidão, os meus colegas de trabalho da Cia Siderúrgica Pains contribuindo para a minha fantasia vitoriosa, “Deus da Ilusão”, inclusive o comparecimento à avenida para reforçar os aplausos. Depois, os bailes nos clubes, como os realizados pelo Salão Paroquial de Santo Antônio, coroavam cada noite. As músicas, hoje tidas como preconceituosas, eram cantadas a plenos pulmões, sem nenhuma vigilância ideológica, porque o que importava era ser feliz, pois o carnaval só durava quatro dias. Tenho saudade do bando de mascarados que jogava água, farinha de trigo e até ovos nas pessoas, porém, se comparado com a realidade atual, eram brincadeiras inocentes.

É pena que atual e as futuras gerações sejam privadas de viver momentos tão lindos. Naquela época, Divinópolis ainda era poupada desses problemas com drogas; se havia ladrões, a gente nem tomava conhecimento. Podia-se andar pelas ruas a noite toda, sem ser molestado. Agora, meus amores, salve-se quem puder.

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