Mesma ladainha

Mesma ladainha

Entra ano, sai ano e determinadas situações simplesmente não mudam no Brasil, o que chega a ser vergonhoso. Todo início de ano a ladainha da dengue é a mesma. “Por favor não deixem focos do mosquito Aedes aegypti em suas casas.” “Virem as garras, tampem as caixas d’água, lavem os vasilhames de seus animais, coloquem areia no prato das plantas, jogue o lixo fora.” As mesmas mensagens são espalhadas, e o Brasil enfrenta epidemia de dengue todos os anos. Não há um só ano em que não seja noticiada a superlotação de Unidades Pronto Atendimento e de hospitais recheado de pacientes com suspeita de dengue, zika ou chikungunya. Nesta época, em que o ar está extremamente seco e as temperaturas começam a subir, após um longo período sem chuvas, o alerta é sobre as queimadas.

Todos os anos o Corpo de Bombeiros faz os mesmos alertas. “Não soltem balões. Não joguem bitucas de cigarro em lotes vagos. Não provoquem queimadas. Não queimem o lixo.” Mas, assim como a dengue, as queimadas ocorrem todos os anos, como se alertas não fossem dados. E o pior é que, apesar dos pedidos de prevenção e das campanhas, o número de queimadas aumenta a cada ano. É simplesmente assustador. É impossível não constatar um fato: boa parte do brasileiro é desprovida de conhecimento, é irracional. O brasileiro não consegue viver em sociedade, não sabe o que é isso e, não demora muito, terá que voltar a viver como os homens das cavernas. Pois, mais claro e óbvio do que o cuidado para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, que é simples e gasta menos de dez minutos por dia, é impossível. Mais na cara do que o fato de que queimadas prejudicam a saúde, têm grande chance de causar incêndios de proporções maiores e podem ser evitados, também impossível.

Falando sério, o povo brasileiro ainda não aprendeu a viver. Ainda não aprendeu que toda ação tem uma reação. E o mais hipócrita de tudo é que, apesar de serem os causadores de epidemias e de devastações, os brasileiros ainda têm a coragem de reclamar da política. E a pergunta é: como cobrar, quando nós mesmos não damos o exemplo? Como cobrar ações de melhorias no meio ambiente, quando eles próprios não conseguem absorver mensagens que são publicadas todos os anos, na mesma época, há décadas? Como cobrar do governo ações de combate à dengue, quando nós não damos conta de limpar o nosso quintal? Como cobrar vagas em hospitais, se nós não sabemos utilizar os serviços públicos e não conseguimos assumir a nossa responsabilidade? Como exigir uma sociedade justa e evoluída, quando nós mesmos não somos justos e evoluídos?

É basicamente uma conta de matemática que não fecha. É como se dois mais dois não fosse quatro. Todo ano é a mesma ladainha, a mesma epidemia, as mesmas queimadas. Mas, todo ano, tudo isso em proporções cada vez maiores. Talvez a nossa única saída seja devolver o país aos índios e pedir desculpas. Pois parece que eles viveram muito bem até a chegada de Pedro Álvares Cabral e sua civilização. Aliás, civilização esta que parece não ter dado muito certo.

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