Manoel José Brandão - Advocacia e futuro

Muitos têm falado que o mundo passará por diversas transformações e as profissões que conhecemos hoje serão extintas paulatinamente. Isso já aconteceu algumas vezes. Ora, quem não se lembra da velha profissão de datilógrafo? Meu pai, por exemplo, dizia que quem não soubesse datilografia não teria nenhum futuro!

Dadas as transformações atuais, é possível dizer que o grande sinal de advertência teria sido dado quando, pela primeira vez na história da humanidade, uma “máquina” venceu um jogador numa partida de xadrez. Em 1996, um dos maiores enxadristas do mundo, o russo Kasparov, foi derrotado pelo computador “Deep Blue”, na Filadélfia, nos Estados Unidos. O fato foi uma grande surpresa e deixou muitas pessoas alarmadas!

Nesse rumo, muito tem se discutido sobre a advocacia do futuro. O advogado ainda fará petições? Será inexoravelmente substituído por uma máquina? Que horror!

É perfeitamente possível que, num futuro bastante próximo, já existam diversas máquinas que façam parte substancial dos serviços que hoje são feitos por nós, advogados. Segundo os especialistas, os avanços tecnológicos permitirão (e já permitem) que as máquinas raciocinem, baseando-se num grande acervo de dados que comporá a respectiva memória. Além disso, ainda segundo os entendidos, na medida em que o computador vier a interagir com as pessoas, essas máquinas extraordinárias aumentarão ainda mais o seu conhecimento e sua capacidade.

Embora não seja um especialista em tecnologia, posso dizer, sem nenhum medo de errar, que haverá mesmo enorme transformação nas nossas vidas em geral.

Não obstante, nós, advogados, nunca seremos extintos.

A profissão de advogado será transformada. Na minha visão, o advogado do futuro será um gestor dos interesses dos seus clientes e deve estar equipado com ferramentas diversas, que vão desde a capacidade de negociação até a capacidade de gerir conflitos em diversos setores. O advogado deve aumentar sua capacidade de ouvir e de interagir com o público, ampliando sua capacidade de aconselhamento. Uma coisa é saber o que a lei determina que seja feito numa determinada situação, outra é analisar a questão com os olhos do cliente, se colocando efetivamente no lugar dele, inclusive quanto à economicidade de uma decisão. A demanda vale a pena? Se eu ganhar o processo, quanto perderei? Essas são algumas das perguntas que o advogado deverá responder. O advogado deverá identificar aflições e angústias.

Ora, como sabemos, o conflito é, muitas vezes, apenas uma justificativa para que determinada relação não seja encerrada. Muitas vezes, o processo ainda é a única ligação entre as partes numa relação que já não se sustenta mais, seja no aspecto familiar, societário ou, até mesmo, comercial.

Além disso, o advogado continuará sendo necessário para o convívio democrático porquanto cabe à advocacia a defesa do cidadão perante o Estado. O advogado será sempre um garantidor e uma garantia e, por isso mesmo, devemos nos preparar para pensar e agir mais coletivamente, ocupando, inclusive, os espaços de discussão havidos em toda a nossa sociedade.

Toda mudança é bem-vinda, mas é sempre bom nos prepararmos.

 

Manoel José Brandão Teixeira Junior - Advogado e presidente da 48ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB DIVINÓPOLIS

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