MAIS QUE PALAVRAS, ATENÇÃO

 

 

Olá! Hoje peço sua atenção. Pretendo refletir com você exatamente sobre esta palavra tão importante, que pode ser um divisor de águas na vida de quem você mais ama. Atenção é um gesto de demonstração de interesse. Quem recebe atenção sente-se valorizado. Por isso, a atenção pode ser altamente considerável e vultosa.

Em Israel, mais precisamente na cidade de Jerusalém, em frente aos muros que circundam a parte antiga da cidade, conhecida como cidade de Davi, existe um cemitério conhecido como ‘Vale dos Reis’. Conta-se que, há algumas décadas, um pesquisador e arqueólogo, que passava pelo local com olhar atento, percebeu um monumento que se destacava dos demais. Estranhamente, em frente ao monumento mortuário estavam juntos um pai e seu filho ainda pequeno. Observou o pesquisador que o pai pegava uma pedra e dava ao pequeno garoto e lhe mandava que atirasse a pedra no monumento. Isso fez o pai daquele garoto repetidas vezes. Percebendo atenciosamente, também reparou que, cada vez que o garoto lançava a pedra, também pronunciava uma palavra de execração ao cadáver que ali estava sepultado. Estranhando o comportamento do pai e seu filho, por se tratar de um cemitério em que foram sepultados os reis de Israel e alguns dos personagens mais importantes da história daquele povo, o pesquisador não pensou duas vezes e questionou: o que e por que vocês fazem isso? Ao que respondeu o pai do garoto: estou ensinando ao meu filho o que fez o homem que está sepultado aqui. E que era um filho maldito, que nunca deve servir de exemplo. Intrigado com a resposta, o pesquisador buscou saber mais sobre o túmulo e descobriu que se tratava da sepultura de um príncipe muito relevante na história (direi o seu nome mais adiante). Essa história me foi relatada pelo também pesquisador, arqueólogo e guia turístico, Shraga Shmueli (Tel Aviv University), quando da minha primeira viagem à Terra Santa.

É uma história no mínimo curiosa. Na realidade, é o resultado de uma história triste vivida entre pai e filho nos corredores do palácio real de Jerusalém, em dias de grande glória do passado. Quero contá-la aqui:

Por volta do séc. X a.C., viveu um rei muito importante e famoso em Israel. Ele ficou conhecido por seus feitos heróicos, como militar, com grandes conquistas territoriais. Tão famoso tornou-se esse rei que até canções foram feitas em sua homenagem. Sua entrada em Jerusalém, depois de cada vitória, tinha sua própria trilha sonora. Mas, o famoso rei também se destacava por sua musicalidade e poesia. E, principalmente, por seu grande temor a Deus. Realmente, seu reino tornou-se muito importante.

Você sabe, quando o trabalho que fazemos decola, isso toma nosso tempo. Um sentimento de sucesso é dominado pelo sentimento de manutenção desse sucesso. Então, não temos mais outro interesse, senão o de manter o que fazemos em alto nível. Foi o que ocorreu ao insigne rei de Israel. Ele fora rei e gestor do Estado em tempo integral. O que não percebia, no entanto, é que o sucesso no trabalho pode trazer ruína na família. A pergunta que sempre me faço é: o que justifica o fracasso de uma família?

O conceituado rei tivera filhos. Alguns filhos eram meios-irmãos (porque um rei podia ter várias esposas). Entre os filhos estavam meninos e meninas. Em especial, três deles são importantes para nós hoje: Amnon, Tamar e Absalão. Nos corredores do palácio, tramas e comportamentos reprováveis se multiplicavam, enquanto o pai, sendo rei, ocupava-se das tarefas do trono. Amnon violentou Tamar. O meio-irmão de Tamar fora longe demais! Passados dois anos do ocorrido, o rei nada fizera para reparar o erro do filho. Absalão vingou a violência do irmão, assassinando-o. Passados dois anos, novamente, nada fizera o ocupado pai. Então, motivado pela ausência de atenção e falta de palavras e orientações, o filho assassino do irmão levanta-se contra o próprio pai e, em batalha, é morto. O exército do pai matou o filho traidor.

Aqui, a história fica pesada. O pai percebe, depois de anos de dedicação ao trono, que tudo o que mais lhe importava (seus filhos) ficara esquecido. Por esta razão, o famoso rei chorou ao receber a notícia da morte do filho. E mandou construir um monumento em memória de seu filho Absalão. Esse é o monumento no Vale dos Reis, de que falei no início deste texto. O nome do pai? O rei Davi. Esta história é contada no livro de 2 Samuel, capítulos 13 a 19.

O que fica de lição é a importância de ofertar aos filhos algo mais do que palavras. Os filhos necessitam de atenção, gestos de amor, ser ouvidos em seus problemas, com afeto e respeito. Eles estão, muitas vezes, trancados em seus quartos, tendo como companhia apenas os amigos virtuais, os jogos na internet, os youtubers. Não têm família, parceria, amizade real em casa. Tudo que muitos adolescentes podem contar na hora de sua dor é ‘o mundo virtual e frio’. Mas parece que muitos pais estão ocupados demais com a manutenção do sucesso e não percebem.

Recentemente, um noticiário de TV relatou que muitos pais solicitam às instituições de ensino e creches que funcionem nos fins de semana para que possam descansar. Querem ainda mais distância dos filhos do que já construíram. O túmulo de Absalão está no Vale dos Reis, em Jerusalém, para nos lembrar que, às vezes, pequenos detalhes tiram de nós grandes e importantes pessoas. Tudo porque tais pessoas esperam mais que palavras de seus pais, esperam atenção com qualidade.

 

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