Ladrões do tempo

Augusto Fidelis

 

Numa matéria de mais de meia página publicada no jornal O Globo do dia 19 deste mês, Casey Schwartz, jornalista do New York Times, informa que os gigantes do Vale do Silício chegaram à conclusão que estão criando um mundo no qual os próprios investidores e técnicos não querem viver. Google, Facebook e Instagram já desenvolvem ferramentas para alertar aos usuários que estão no limite. O tempo é muito precioso para ser desperdiçado sem se dar conta.

Estudo encomendado pela Nokia descobriu que, a partir de 2013, os usuários passaram a checar o celular 150 vezes por dia em média, e tocam no aparelho pelo menos 2.617 vezes. “As companhias parecem sugerir que gastar muito tempo navegando na internet é, antes de tudo, um mau hábito. E, se não controlado, pode se tornar um vício desagradável”, disse Schwartz.

Ainda na referida matéria, o filósofo James William, que trabalhou por dez anos nos primórdios do Google, conta que recentemente, quando fazia uma conferência sobre tecnologia em Amsterdã, perguntou a cerca de 250 designers que estavam na sala: “Quantos de vocês querem viver no mundo que estão criando? Em um mundo onde a tecnologia está competindo pela nossa atenção, roubando o nosso tempo?” Segundo William, nenhum levantou a mão.

A internet deveria ser um instrumento de aproximação entre as pessoas, de busca de solidariedade, de companheirismo. Mas, em geral, está sendo usada para destruir amizades, disseminar a discórdia, provocar a solidão. É cada vez maior o número de adolescentes que se trancam no quarto com seus brinquedos digitais e ali desenvolvem os mais sórdidos pensamentos. Inclusive, o número de suicídios vem crescendo assustadoramente entre os jovens.

Outro grande problema que aflige as pessoas é a exposição em demasia. Atitudes simples, comentários sem segundas intenções tornam-se pecados mortais. Até as atitudes mais extremas transformam-se em espetáculos. Recentemente, um homem pulou do Edifício Costa Rangel. Muito antes de alguém chamar o socorro, a preocupação dos passantes foi fotografá-lo morto e distribuir nas redes sociais. Não houve preocupação com a sua sorte e com os motivos que o colocaram em tal posição.

Em 1949, o escritor inglês George Orwell publicou o romance “1984”, cuja figura principal é o Big Brother, que tem controle sobre tudo e todos. Nas ruas as pessoas seguram cartazes com os dizeres: “O Grande Irmão está de olho em você”. Isto é, está de olho nos viciados em internet e pode mandar o Brien, outro figurão do partido, castigá-los com o ataque dos ratos. Cuidado, gente, muito cuidado!

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