Isso ajuda a passar o tempo...

Antônio de Oliveira

Início de ano. Assunto recorrente toda passagem de ano: o tempo. Como passou depressa, não? Por outro lado, fico meio encucado quando alguém diz: isso ajuda a passar, a encher o tempo... Como se a vida fosse longa e constituída de espaços vazios.

O Amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, analisando a situação de um conhecido seu, 50 anos de idade, diz que ele não encontrara ainda a que se dedicar e começa por destacar as etapas: “Colecionou selos, criou canários de briga, estudou esperanto, virou integralista e, por fim, abraçou o espiritismo”. Então o amanuense se volta para si mesmo: “E lembrei-me de mim, também. Por que não? Fali na vida, por não ter encontrado rumos”.

José Paulo Cavalcanti, numa alentada “quase autobiografia” de Fernando Pessoa, conta a história desse gênio infeliz que não conseguiu ser ele próprio, apesar de ter sonhado ser muitos outros rostos: de decifrador, filósofo, geógrafo, grafólogo, jornalista e louco, clínico geral, psicólogo e psiquiatra; homem, mulher e espírito, aristocrata, imperador romano, mandarim, marajá e paxá, adivinho, alquimista, astrólogo, bruxo, panfletário e especialista em capoeira, guarda-livros, pagão, cristão-novo, reverendo, Sir, gente do povo e o menino de sua mãe.

Há pessoas que se queixam de que não têm nada para fazer: nem atividade física, nem ler, nem escutar música, nem dançar, nem fazer teatro ou palavras cruzadas, nem fazer crochê ou tricô, nem orar, nem jogar xadrez ou estudar informática, nem dedicar-se à culinária. Apelando, há aqueles que sentem o tédio da vida, “taedium vitae”, e optam por alucinógenos para esconder o tempo. Já se disse que a vida não é um problema para ser resolvido, mas para ser vivido. “Às vezes as mentiras também ajudam a viver... Talvez para meu filho eu também tenha que mentir para enfeitar os caminhos que ele um dia vai seguir.” Será que Roberto Carlos tem razão? A vida é bela. Tudo depende do olhar...

 

 

 

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