Intelectual analfabeto

Antônio de Oliveira 

Intelectual ou letrado que não adentrou o mundo digital, nem tenta fazê-lo, passa a viver como analfabeto digital. Não sou o criador desse paradoxo. Muito se fala em analfabeto funcional. A palavra “atual” nunca foi tão atual. Acelerado, o trem da história deixa muita gente parada, com sua bagagem cultural, trazendo na mala bastante saudade, saudade de um dom Sebastião. Rumo aos destinos da humanidade, essa locomotiva, movida pela deusa tecnologia, vai abandonando teses e dissertações na Estação do Mimeógrafo a Álcool, do Mimeógrafo a Tinta.

O avanço tecnológico marginaliza essa gente personificada na locução latina “laudatortemporisacti”, aquele que tece louvores ao tempo passado. Final de um verso de Horácio (Arte Poética, 173), alusivo ao pensamento propenso a exaltar o passado em relação ao presente. Às vezes, por comodidade, lei do menor esforço.

O que fazer? Acomodar-se ou correr atrás do prejuízo, já que correr atrás do lucro está difícil. Há uma linguagem nova e que se renova, dia a dia, para cobrir a designação de novos inventos.

Retomando a ideia do paradoxo, o próprio ser humano, numa visão mais ampla, ou sem uma visão mais ampla, já é quase, por natureza, um paradoxo ambulante. Afinal, o que é um paradoxo? Tomemos como referência a palavra “dócsa”, em grego, que significa opinião comum, com significado mais consistente que opinião pública. Giram em torno desse vocábulo: ortodoxo, aquele que segue a opinião vigente; heterodoxo, o que contesta, diverge; e o paradoxo, argumento aparentemente absurdo, mas com algum fulcro de verdade. Exemplo: a solução para o trânsito nos grandes centros é acabar com as escolas. Com efeito, no período de férias escolares, o trânsito flui menos agarrado, mas daí...

Diz-se que a vida é feita de decisões. Fica, então, mais este desafio para quem, como eu, já passou por algumas gerações: high-tech, ser ou não ser, eis a questão! Ou então me vou embora pra Pasárgada. Esse lugar existe?

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