Ignorância que mata

Há cerca de 40 anos, muitos imaginavam que em 2018 o mundo estaria dominado por máquinas, robôs, carros voadores, inteligência artificial, e, que o ser humano seria bem evoluído. Quem tinha seus 15 anos naquela época e acreditava nesta realidade, hoje, deve ter seus 65 anos e não vive nada disso.

Há quase 20 anos, o Brasil conseguiu erradicar a poliomielite, mais conhecida como paralisia infantil. O último caso registrado foi na Paraíba, em 1989. Mas ligado ao futuro que muitos imaginavam, além da erradicação da Pólio, está a ignorância do ser humano. Além de não viver na imaginada inteligência artificial, muitos retrocederam e uma das causas desse retrocesso foi a popularização da internet, principalmente das redes sociais.

O Ministério da Saúde (MS) começou no dia 1º último, a Campanha de Vacinação contra Pólio e o Sarampo e, até o dia 24 de agosto, mais de quatro milhões de crianças, em todo Brasil ainda precisavam ser vacinadas. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), até esta segunda-feira, 27, pouco mais de seis mil crianças haviam sido imunizadas no município. O número está longe da meta, que é mais de dez mil. Além do jeitinho brasileiro, que deixa tudo para última hora, o número de crianças a serem vacinadas se deve a um fator criado com a popularização da internet, das redes sociais: as fake news.

Milhares de notícias falsas como: vacinas causam autismo; uma melhor higiene e saneamento farão as doenças desaparecerem; vacinas não são necessárias; as vacinas têm vários efeitos colaterais prejudiciais e de longo prazo que ainda são desconhecidos; a vacinação pode ser até fatal; a vacina combinada contra a difteria, tétano e coqueluche e a vacina contra a poliomielite causam a síndrome da morte súbita infantil; “as doenças evitáveis por vacinas estão quase erradicadas em meu país, por isso não há razão para me vacinar”; as vacinas contêm mercúrio, que é perigoso... Boatos como esses são publicados e compartilhados por milhares de pessoas, que sem qualquer cuidado, ajudam a disseminar a ignorância no Brasil.

A situação chegou a tal ponto de preocupação, que o Ministério da Saúde lançou um serviço de combate a fake news. Qualquer cidadão brasileiro poderá adicionar gratuitamente no celular o WhatsApp do Ministério da Saúde: (61) 99289-4640. Ele servirá exclusivamente para verificar com os profissionais de saúde nas áreas técnicas da pasta se um texto ou imagem que circula nas redes sociais é verdadeiro ou falso. Tal serviço não seria necessário se o ser humano fosse capaz de pensar um pouquinho, de raciocinar.

O diretor de comunicação social do Ministério da Saúde, Ugo Braga classificou o serviço como primordial, pois no caso da saúde, a fake news pode matar.

Diante de tal serviço, dos números baixos de vacinação, das fake news e da ignorância do povo que acredita e as compartilha, só se pode ter certeza de que o futuro com carros voadores, robôs e tudo mais está longe. O ser humano é incapaz de distinguir uma notícia falsa de uma verdadeira, se ele não tem filtro para isso, tão pouco terá para criar — e viver — a inteligência artificial.

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