Ignorância

Leila Rodrigues

 Cresci achando que ignorante era uma pessoa boba. Boba, sem inteligência, burra. Boba era eu que é não conhecia o verdadeiro sentido da palavra. Uma das definições do dicionário Michaelis diz que ignorar é não tomar conhecimento por desprezo ou indiferença.

Não falo aqui da ignorância ingênua daqueles que realmente não tiveram oportunidades de adquirir conhecimento em alguma coisa. Falo da ignorância daquele que conhece, sabe as regras, sabe as leis e ignora simplesmente. Ignora por achar que não precisa cumprir regras, ignora por se achar melhor que o outro. Ignora por se colocar em um suposto lugar diferente dos demais. Este sim, pratica a arte do regresso.

Se eu ignoro as regras de trânsito, se eu ignoro quem vem ou quem vai, se eu ignoro o veículo que eu estou conduzindo eu realmente ponho muitas vidas em jogo, inclusive a minha!

Se eu ignoro o outro, seus sentimentos, seus desejos, seus princípios e seus valores eu corro um sério risco de perder esta pessoa. Por que eu só posso conviver com o outro se eu me colocar na condição de humano como ele também o é. Este é o princípio das relações humanas. E nenhum ser humano sobreviverá nesta selva chamada Terra, sozinho.

Se eu ignoro os sinais do meu corpo, minhas dores, meus limites e minhas necessidades, eu corro o risco de levar esta máquina chamada corpo ao fim mais cedo do que ele teria condições de existir. Se eu ignoro os meus direitos e deveres enquanto cidadão, eu corro o risco de ter que aceitar o que a maioria decidiu por mim.

Se eu ignoro as pessoas ao meu redor, se eu ignoro as regras, se eu ignoro o meio ambiente, se eu ignoro as crenças e opiniões alheias de alguma forma eu vou pagar caro por esta minha ignorância. Mais cedo ou mais tarde a lei do universo apresentar-me-á a lição exata que eu preciso para a minha evolução. Da forma mais variada e intensa possível, sempre proporcional à minha ignorância.

É fácil culpar o destino, o acaso, o outro ou o sistema pelos nossos fracassos. Isto sabemos fazer com maestria. O que não é fácil é assumir nossas escolhas e todas as vezes que ignoramos o contexto antes de tomarmos nossas atitudes.  Esta talvez seja a atitude mais nobre e mais difícil do ser humano, tomar consciência dos seus atos. O quanto antes conseguirmos fazê-lo melhor para todos nós. A ignorância não perdoa!

leilarodrigues-palavras.blogspot.com.br

 

 

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