Heróis de Canoas

Inocêncio Nóbrega

Em recente e merecido descanso mental, me juntei à família para conhecer, mais um pouco, Porto Alegre de São Pedro. Gaúchos hospitaleiros, de valentia e história. Vislumbrei seculares monumentos, extensas praças, artérias centrais com ideias de padronização. O Mercado Público que o diga. Certamente lembranças do botânico francês Saint’Hilaire, que deu contornos urbanísticos à futura capital de estado, quando aí esteve ele há 200 anos. Cidade de muitos chafarizes, para comodidade da população. Passeei pelas largas calçadas da antiga Usina do Gasômetro. Interessei-me, todavia, avistar o Palácio Piratini, na Praça Floriano Peixoto.

A pujança econômica do Rio G. do Sul se contrasta com o passado e suas tradições: farroupilha, maragatos, Revolução de 30, Campanha da Legalidade, Vaqueanos da Cultura. Ao visitar aquele logradouro, ladeado pelas sedes dos três Poderes, além do Divino, a Catedral, minha mente se voltava ao gov. Leonel Brizola, de metralhadora à mão, movimentando-se num dos saguões do Piratini, e outros idaqueles cruciais dias de 1961. Apertava-me a sensação de resistência às ordens dos ministros militares, de impedirem a posse do vice-presidente João Goulart. Zumbiam-me os dramáticos discursos de Brizola, transmitidos pela Rede da Legalidade, cerca de 200 emissoras de rádio: “Asseguro não aceitar qualquer golpe, não assistiremos, passivamente, a qualquer atentado às liberdades públicas e à ordem constitucional. Defendemos a ordem legal, a Constituição, a dignidade do povo brasileiro”! Não me cansava de fitar aquelas gloriosas imagens, quando, inopinadamente, um transeunte nos informa da existência de uma estátua de Brizola, entre a sede do Governo e a Igreja.  Ele é nosso ídolo – bradou!  Ante seu pedestal, murmurando abracei-a.

Numa segunda ocasião, fruto de amizade conquistada, digno senhor da cidade de Canoas me fez obter o livro “Os Sargentos da Legalidade”, de Ney de Moura Calixto. Emparelha-se ao “Memórias de Agildo Barata”, tenente que rebelionou o 23º BC de João Pessoa, na Rev. de 30, além de outros atos revolucionários e nacionalistas. Também preso e exilado.

O sargento Calixto, mais tarde bacharel em direito, nos narra, com efeitos emocionais, os momentos tensos vividos na Base Aérea de Canoas, sua terra natal, unidade a que pertencia, dividida entre oficiais golpistas e suboficiais, cabos, soldados e taifeiros legalistas, heróis que rechaçaram ordens superiores de bombardear o Palácio Piratini, esvaziando os pneus das aeronaves, prontas para decolagem. Episódio que deveria ser conhecido dos brasileiros no que, baseado nesse livro, tentarei repassá-lo, mais tarde, com novos detalhes.

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