Greve dos caminhoneiros: só o tempo dirá

Eduardo Augusto

Diante de tamanha crise instalada pela greve dos caminhoneiros, não poderia me furtar de algumas considerações sobre esse momento de caos instalado no Brasil.

Em primeiro lugar destaco a atuação dos caminhoneiros, que, através de suas representações, em primeiro momento decidiram dialogar com o governo oficiando a situação e alertando pela greve e seus reflexos. O governo decidiu ignorar, mesmo com novas advertências – o que retira qualquer culpa dos grevistas com o caos em que vivemos.  

Ficou evidenciado que a greve não foi um manifesto dos empresários do ramo de transporte, mas uma greve de toda a categoria, incluindo os autônomos.

Essa união de classes deu credibilidade às reivindicações e fortaleceu o movimento, gerando verdadeiro desabastecimento no Brasil, o que obrigou o governo a responder e atender às questões suscitadas, mesmo de forma preclusa.

Como o governo não deu ouvidos à classe e arrogantemente empurrou as coisas com a barriga, os dias foram se passando e gerando verdadeiro caos.

Na primeira semana, como ainda havia estoques e prateleiras cheias, a grande maioria da sociedade permaneceu assistindo o manifesto, muitos não acreditaram que a greve perpetuasse no tempo e geraria tantos transtornos. A população permaneceu em casa, nos bastidores.

Da mesma forma, os políticos palacianos assistiram aos reflexos de seu desgoverno, revelando um verdadeiro descaso. Destacam-se os parlamentares que deixaram Brasília e foram para seus redutos eleitorais, obviamente em busca de votos para eleição deste ano.

Com a desordem instalada, depois de dias de luta dos caminhoneiros, o governo abaixou sua arrogância e começou a negociar com a categoria, mas o que vimos foi oferta de esmolas e migalhas.

A prepotência do governo foi tamanha que sequer permitiu a participação da representação dos autônomos nesse ponto. O governo entendeu que atendendo aos empresários, os pequenos trabalhadores voltariam às estradas, o que não aconteceu.

Caiu a cortina do amadorismo do governo em negociar com gente de verdade. Estavam acostumados na política dos bastidores, do toma lá, da cá. Desta vez, o manifesto estava representado por uma classe que não se envolve com corrupção, queria mudanças de verdade e duradouras para a sociedade.

Vendo que os caminhoneiros não arredavam o pé dos bloqueios e os problemas somente aumentando, o governo, maliciosamente, através da grande mídia, buscou ainda colocar a culpa no manifesto e a sociedade contra os caminhoneiros – uma tática prontamente verificada pelos grevistas que trataram de mostrar através do WhatsApp que para coisas essenciais caminhões tinham livre passagem – quem saiu perdendo foram as grandes mídias.

O governo preferiu prestigiar suas contas, seus impostos, o lucro bilionário da Petrobras e seus altos gastos com a máquina pública do que atender de verdade o anseio de toda sociedade. Quando decidiu fechar o acordo, fez concessões irrisórias, que ajuda o caminhoneiro, mas de longe está dentro do ideal para toda categoria. 

Em todo tempo, é difícil indicar um momento grotesco do governo, pois foram muitos. Mas é importante citar quando um repórter perguntou aos ministros em coletiva sobre a redução do preço da gasolina e do álcool responderam que falavam somente do diesel, nada dos demais combustíveis por ausência de tratativas sobre o assunto. Um verdadeiro escárnio.

Diante dessa afirmação a sociedade se viu desassistida pelo governo, mais uma vez. A sociedade se viu penalizada duas vezes: uma pelo desabastecimento, outra pela mantença dos preços da gasolina e álcool.  

Com isso, vieram à tona apelos extremistas de todo tipo: queda do governo, intervenção militar etc. Ou seja: bagunça e desordem. Novo caos instalado.

Diante do aforçuramento, o governo decidiu usar a força e o poder para restabelecimento da ordem e segurança de toda população, inclusive dos caminhoneiros. Enxurradas de liminares judiciais por todo Brasil, polícias e exército nas ruas. Estradas para garantir o abastecimento e o direito de ir e vir de todo cidadão.

O governo busca nesta semana atender ao que pelo menos foi prometido, obrigando o congresso a votações às pressas, quanto que uma parcela de manifestantes permanecem nas estradas, enquanto toda sociedade busca a normalização da vida.

Vejo que o melhor agora para toda sociedade é a retomada do setor público e privado, o retorno da rotina das empresas e fabricantes, do setor agrícola/do campo, a retomada da vida e do hábito das pessoas, além do diálogo com esse governo, pois, acredito que ainda, por tudo que aconteceu ou deixou de acontecer, só o tempo vai dizer quem ganhou e quem perdeu com essas manifestações.

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