Grades da ilusão

Editorial 

Uma passagem bíblica, mais precisamente em Jo., Capítulo 8, Versículo 32, diz o seguinte: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. O Brasil completou, na semana passada, 100 dias de covid-19 – desde o primeiro caso registrado pelo Ministério da Saúde (MS) – e tem uma curva de crescimento de infectados e mortes que avança em níveis assustadores. A verdade é que nem todos os dados são passados e, quando são, muitas vezes, maquiados. A situação não é das melhores e não há maquiagem que consiga “tampar” tudo isso que o país está enfrentando. E pior: ninguém fala nada com nada e a população fica perdida sem saber em quem e em que acreditar. 

Divinópolis registrou nesta quarta-feira, 10, a sexta morte por coronavírus, a segunda em menos de 24h. Os casos confirmados já ultrapassaram os 250 e as notificações são mais de duas mil. Os números são mais que assustadores. E em meio ao medo e à insegurança, alguns brasileiros ainda insistem em utilizar uma tática um tanto curiosa: negar a existência do vírus, a sua letalidade, a sua periculosidade. Preferem negar que tudo é real. Talvez pelo fato de a realidade ser dura demais e assustadora para ser encarada? Pode ser. Mas a grande verdade é que à medida que o vírus avança, mais real ele se torna. 

Os cientistas de todo o mundo continuam trabalhando incansavelmente, incessantemente, em busca de uma vacina, de um remédio, de algo que dê um alívio para este momento. Enquanto isso, a humanidade continua em um “beco sem saída”, tendo em mãos o poder de se prevenir com cuidados simples: usar máscara, lavar as mãos, evitar aglomerações e, para quem tem fé, rezar ou orar, como queiram. Para quem não tem fé, é contar com a “sorte”. 

A todo o momento há uma nova informação, uma nova adaptação, uma descoberta, que não é tão descoberta assim, flexibiliza, não flexibiliza, fecha isso, abre aquilo, o povo tá morrendo de fome, o povo tá morrendo de coronavírus. O coração chega a doer. A cabeça luta para não surtar, para se manter firme. Se até os cientistas e médicos estão perdidos diante do caos, imaginem o povo, pobres “reles mortais”? 

E aí, em meio a tudo isso, aos caminhos que não levam a lugar nenhum, ao desespero, aos “negacionistas”, às informações desencontradas, ainda tem as notícias falsas. No Brasil a covid-19 virou interesse político e conseguiu polarizar ainda mais a população. Com isso, as notícias falsas ganham cada dia mais espaço. A situação chegou ao ponto de o jornalismo, os veículos de comunicação fazerem um consórcio inédito, para que o povo seja informado com dados reais – disponibilizados pelas secretarias estaduais de saúde – sobre o coronavírus. Foi preciso travar uma guerra com o governo federal e com os criadores e disseminadores das notícias falsas para que a verdade prevaleça e liberte o povo das amarras da ilusão. 

Foi preciso que o jornalismo mostrasse mais uma vez que sem ele não há democracia, sem ele não há liberdade. Dizem por aí que “quando isso tudo acabar” a humanidade sairá mais forte. Pode ser. Mas pode ser também que o ser humano continue exatamente o mesmo, ou até pior, pois se durante todo este “processo” já está difícil, talvez pouca coisa mude – porque, ao que parece, pouca gente quer ser libertada. Muitos ainda preferem as grades da ilusão, em nome de um conforto, que na verdade não é tão confortável assim. 

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