George Lucas: como o criador de Star Wars foi de herói a vilão

Maria Tereza Oliveira 

"Star Wars" é um marco na cultura pop. Mesmo quem nunca assistiu reconhece os elementos da franquia e para quem já conhece, é possível perceber as influências desta obra nos filmes que sucederam até hoje. Foi "Star Wars" que criou diversos conceitos no cinema blockbuster, desde as revoluções nos efeitos especiais até a forma de contar história, além disso, o formato de franquia também não era popularizado na década de 1970. George Lucas foi o grande idealizador e responsável pela criação desta guerra intergalática e por muitos anos foi considerado um herói da cultura nerd.

Início de um sonho

Após a primeira trilogia da franquia - "Star Wars: The New Hope" (1977), "Star Wars: The Empire Strikes Back" (1980) e "Star Wars: The ReturnofJedi" (1983) -, George Lucas era enaltecido não só pela comunidade nerd, como todos os amantes do cinema, além de ser respeitado pelos seus colegas cineastas. O primeiro filme foi um sucesso tão estrondoso que quando foi anunciado o trailer da sequência, em uma época sem internet, as pessoas compravam ingressos apenas para assistir a prévia do novo capítulo da saga. Tão logo acabava o trailer, as salas de cinema praticamente era esvaziada. O sucesso se repetiu nos dois filmes seguintes e o status de herói para George Lucas continuou durante mais de uma década.

Foi George Lucas que criou o metódo de lucrar a partir dos produtos licenciados. Ao tentar vender sua ideia aos estúdios, ele focou mais em ter lucros com produtos licenciados e foi certeiro.

A relação foi abalada quando em 1997 ele relançou os filmes da trilogia original com mudanças significativas, em uma edição especial. A intenção de George, aparentemente, era apresentar as evoluções tecnológicas nos efeitos especiais que ele desenvolveu durantes estes anos, além de preparar os fãs para uma nova trilogia. Com isso os filmes anteriores foram renomeados e descobrimos a ordem deles na história. O filme de 1977 é o Episódio IV, o de 1980 é o Episódio V e o de 1983 é Episódio VI. 

Apesar das mudanças indigestas, o público estava empolgado para a história que seria contada nos filmes seguintes, na "trilogia prequel". Quando o material de divulgação de "Star Wars Episode I: The PhantomMenace" (1999) foi revelado, o público descobriu com satisfação que a narrativa seria a história de origem de Darth Vader - um dos vilões mais icônicos do cinema.

Deu tudo errado?

No entanto, toda a empolgação com a continuação de Star Wars se tornou frustração quando o filme chegou ao cinema. A recepção dos fãs foi negativa e o antigo queridinho dos nerds, tornou-se "persona non grata" na comunidade. Os filmes seguintes - "Star Wars Episode II: Attackofthe Clones" (2002) e "Star Wars Episode III: RevengeoftheSith" (2005) - não ajudaram a amenizar a ira dos fãs. O fracasso da trilogia de Anakin, além das constantes mudanças à trilogia clássica começaram a pesar mais.

Para ser justa, o segundo e terceiro filmes da trilogia prequel melhoraram em relação ao primeiro - não que precisasse de muito para tal -, mas não o suficiente para se equilibrar à primeira trilogia. Enquanto os fãs sofriam com os lançamentos, George também entrava em um frenesi para revisão dos filmes antigos, chegando a um ponto em que elas também se tornaram maculadas. Os efeitos práticos que tanto chamaram a atenção nos primeiros longas, foram substituídos em grande parte por computação gráfica. 

Todavia, a tecnologia que ainda estava engatinhando, não envelheceu bem, ao contrário dos efeitos práticos, mas, nem isso foi suficiente para parar o entusiasmo de George Lucas. Mesmo com os protestos dos fãs, o cineasta se negava a lançar os filmes inalterados. O resultado é que mesmo hoje com a praticidade da internet, é preciso fazer um grande esforço para conseguir encontrar as versões originais.

Nova trilogia: novos conflitos

Mesmo com os erros cometidos, os fãs da franquia foram implacáveis com George Lucas e, como resultado, ele passou por maus bocados em relação à saúde mental. Cansado das críticas e dos "haters", ele resolveu vender a Lucasfilm e, consequentemente, a franquia Star Wars para a Disney. A compra foi realizada em 2012 e três anos depois chegava aos cinemas o primeiro capítulo da nova trilogia desenvolvida pelo "Estúdio do Mickey" - "Star Wars Episode VII: The Force Awakens". Após ele, a Disney ainda lançou "Rogue One: A Star Wars Story" (2016), "Star Wars Episode VIII: The LastJedi" (2017), "Solo: A Star Wars Story" (2018) e "Star Wars Episode IX: The Riseof Skywalker" (2019), fora as animações e séries. Apesar de alguns longas feitos pela Disney dividirem a opinião dos fãs, nada chegou aos pés da trilogia de Anakin.

Antes de vender a franquia, Lucas teve diversas reuniões com o estúdio e apresentou à Disney quais eram seus planos para a terceira trilogia de Star Wars. Mas quando o filme foi lançado, George ficou indignado pois o estúdio não aproveitou suas ideias. Ele acusou a Disney de tê-lo traído e até hoje diz que só voltaria para a franquia, caso tivesse controle total - o que vai contra a política do estúdio.

A briga entre cineasta e os fãs chegou a tal nível que foi lançado em 2015 um documentário intitulado "O Povo contra George Lucas". Na obra os fãs de Star Wars acusam George, principalmente por tratar a franquia como uma obra pessoal e não notar que, por ser um marco cultural, deve-se ter responsabilidade e pensar nos fãs ao tratar o material.

No entanto, só lembrar das falhas de George Lucas é negligenciar o legado de Star Wars. Como o tempo muda a percepção das pessoas, hoje, após mais de 20 anos, desde o lançamento de Attackofthe Clones, há quem defenda esta trilogia e aprecie os filmes. É fato que apesar das falhas, George Lucas tem papel primordial na cultura pop. Não é por nada que, mesmo após 43 anos, Star Wars segue como fenômeno, faturando milhões em licenciados e lotando salas de cinema a cada lançamento.

Maria Tereza Oliveira é jornalista e editora-chefe do site cebolaverde.com.br

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