Futebol de Divinópolis está de luto

O futebol amador, o Guarani Esporte Clube e o jornalismo esportivo de Divinópolis podem ser divididos em duas épocas: antes e depois de Ricardo Lúcio, um apaixonado pelo esporte da cidade, que fez do microfone da rádio sua ferramenta de trabalho, pelo qual levava alegria a milhares de lares divinopolitanos e de toda a região Centro-Oeste.

Sua voz inconfundível e seu amor pelo Guarani marcaram toda uma época e ainda se passarão anos até que apareça alguém para ocupar o espaço deixado vazio. Sua ausência será sentida até mesmo por aqueles que não tiveram o prazer de conhecê-lo, ou o privilégio de ouvi-lo em suas transmissões esportivas.

Foi-se o amigo, o filho, o tio, o pai, o marido e irmão, mas fica o legado de toda a sua trajetória de amor ao esporte, que, por certo, será lembrado e relembrado ainda por muitas gerações e décadas.

O início

O que têm a ver duas traves - ‘de joguinhos de botão’, duas caixas de fósforos, oito tampinhas de garrafa e um botão de camisa? Para quase todo mundo nada, pois somente uns poucos sabem o seu real significado desta história.

Mas foi justamente assim que tudo começou. Juntos no alpendre da casa de seus pais, no bairro Porto Velho, ficávamos ele (Ricardo Lúcio), eu (José Carlos), seus irmãos Clebinho e Rubinho e uns poucos amigos, nos enfrentando em jogos de tampinha.

Com o campo marcado com giz, uma caixa de fósforos como goleiro, quatro tampinhas para cada lado como jogadores, um botão como bola, armávamos nossos campeonatos. E ali, ele já treinava suas locuções, imitando seus ídolos das rádios cariocas - Globo e Nacional (naquela época a audiência das rádios mineiras ficava a desejar por estas bandas) - até que um amigo, um vizinho, o convidou para trabalhar na antiga rádio Cultura, que ficava na rua São Paulo e foi o embrião do que é hoje o Sistema MPA de Comunicação.

Falecimento

Agora, infelizmente, tudo isto fica para a história e não há como escrever novos capítulos. Depois de lutar durante anos contra uma diabetes, Ricardo Lúcio perdeu a batalha na madrugada de ontem, e no fim da tarde teve seu corpo sepultado no Cemitério Parque da Serra, onde amigos, antigos jogadores e dirigentes do Guarani, e familiares foram lhe prestar homenagens e dar o último adeus.

Histórias que se confundem

As histórias do Guarani, como clube de futebol profissional, e do locutor Ricardo Lúcio se confundem em uma só. Quando o Guarani subiu para o profissional, no ano de 1976, ele já dava seus primeiros passos no rádio, trabalhando na Cultura.

E de lá para cá, entre idas e vindas (tirando apenas o tempo em que esteve enfermo), Ricardo vivia o Bugre 24 horas por dia, sofrendo a cada derrota e vibrando a cada nova conquista do alvirrubro de Porto Velho.

Livro

Ele foi sepultado na tarde de ontem, mas sua vida e seu amor pelo Guarani serão eternizados em um livro que estava escrevendo sobre o clube, e que por certo terá agora seu trabalho valorizado por seus familiares, que devem presentear a cidade com uma edição. E da eternidade, ele o lerá como se fosse o retrato vivo de suas memórias.

Sentimentos

Não digo adeus - pois tenho fé que ainda nos reencontraremos em breve -, mas simplesmente um até logo, lembrando àqueles que o amavam que a hora não é de lamentar sua partida, mas, sim, de festejar sua nova vida, agora nos braços do Pai.

Aí ‘Meganha’! Espere-nos mais um pouco, porque em breve todos nos reuniremos novamente para festejar nossa amizade. Até mais, irmão querido!

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