Expressando o inexprimível

Antônio de Oliveira 

Além do silêncio, o que mais se aproxima na tentativa de expressar o inexprimível é a música. Pensamento de Aldous Huxley. Há músicas indescritíveis: sacras, clássicas, populares. Sensação, arrepio, enlevo ao ouvir certas composições que não são músicas apenas para os ouvidos. Penetram profundamente n’alma. E fazem que, ouvindo o que os ouvidos não se cansam de ouvir, possamos ondular acordes “num voo angélico para as altas esferas” e levitar, acima do assento, nosso corpo ouvinte. 

Prelibar, antegozar o Céu. Para os que creem, apenas um modo analógico de dizer. Como se lê de Paulo aos Coríntios: “Olho algum jamais viu, ouvido algum nunca ouviu e mente nenhuma imaginou...”. Ou subindo ao sétimo céu, estado de felicidade plena, no paraíso. Segundo o islamismo, sete são os céus, superpostos. O sétimo é o céu de Alá, presidido pelo patriarca Abraão. 

Vozes privilegiadas conduzem noss’alma ao estado de êxtase. Profundas e altas emoções em tons graves ou agudos, em sintonia com a orquestra sob a batuta de maestros pontuando a transfiguração do humano. 

Em dueto ou duelo com o amor, ora bálsamo, lenitivo, ora dor de cotovelo, a música é estética, técnica, compasso. Amor é tema recorrente na poesia, no romance, no drama, na tragédia. Amor cadenciado na cadência do coração, mudando apenas de tom e no seu andamento: ora “affettuoso, dolce, adagio”, ora “agitato, presto”. Ora “É devagar! É devagar! É devagar, é devagar, devagarinho”. “Rallentando.” É assim que a gente chega lá, na musicalidade da vida. Ora tomando decisões precipitadas, ora aprendendo com os erros, ora mordidos de ira cívica em face de fundamentalismos ideológicos, ora “alegro, vivace...”. A vida é um ensaio, mas vale como interpretação. Esta, por sua vez, sempre sujeita a reavaliação. 

Réquiem de Mozart, Coro dos Peregrinos da ópera Tannhäuser, de Richard Wagner. Composições assim nos transportam à “Fantasia Coral”, de Beethoven, e ao Aleluia de Händel.

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