Exposição de trabalhos de alunos causa polêmica na Câmara de Divinópolis

Pollyanna Martins  

Um trabalho desenvolvido por alunos do 3º ano da Escola Estadual Manoel Corrêa Filho e exposto na Câmara causou alvoroço entre os vereadores. A exposição de fotos traz a releitura de obras de vários artistas e foi proposta e acompanhada por uma professora de português da escola, porém quatro fotos em especial incomodaram os vereadores Cleitinho Azevedo (PPS), Janete Aparecida (PSD) e Sargento Elton (PEN). 

Os alunos tinham de fazer a releitura dos trabalhos e trazer um elemento da contemporaneidade. Janete Aparecida disse, em seu pronunciamento, que se sentiu ofendida como cristã por causa da releitura da Senta Ceia, do artista barroco italiano Caravaggio.  

Na releitura da obra do artista, os alunos utilizaram uma garrafa de whisky e um celular como elemento contemporâneo. A parlamentar considerou a foto uma afronta à fé cristã e solicitou que fossem tomadas providências em relação à exposição.  

— Eu como cristã fico indignada. Eles colocam, nesta foto, Jesus na Santa Ceia de um lado e, do outro lado, a foto como se fosse uma réplica de alguns jovens, com uma garrafa de whisky e com um energético imitando a Santa Ceia. Isso é uma afronta à nossa fé cristã — reclamou.  

Cleitinho Azevedo emendou as palavras de Janete, cobrou respeito e também solicitou que a exposição fosse retirada da Câmara.  

— Você pode não acreditar em Deus, pode não acreditar em Jesus Cristo, mas você tem que respeitar quem acredita — criticou. 

Já Sargento Elton, além de concordar com os colegas, disse também que a exposição feita pelos alunos da escola, além de ofender a fé cristã, faz apologia ao crime. O vereador pediu ao presidente da Câmara, Adair Otaviano (MDB), e à mesa diretora que notificassem a escola e solicitassem a retirada da exposição.  

— A gente fica chateado de ver uma situação dessa, alunos do ensino médio, uma professora formada passar uma situação dessas, denegrindo a fé cristã [...] Isso aqui inclusive é apologia ao crime, incitando os jovens a usarem bebida alcoólica — avaliou.  

A escola  

Agora entrou em contato com o diretor da escola, Fabrício Santos Gonçalves de Oliveira, e ele informou que o trabalho foi desenvolvido pelos alunos durante um bimestre, no ano passado, e em um primeiro momento foi exposto na escola, para os pais dos alunos e para a comunidade escolar. Conforme o diretor, na ocasião o trabalho recebeu vários elogios e, por isso, houve a decisão de levá-lo para a Câmara. Fabrício disse ainda ter ficado surpreso com a reação de algumas pessoas, pois foi feito um estudo dos autores e das características das obras. 

— Em nenhum momento, as fotos foram feitas para ofender alguém, muito menos para ofender a fé alheia. Os alunos fizeram um trabalho pautado pela arte, houve todo um estudo artístico, orientado pela professora — esclarece.  

Ainda segundo o diretor, há a intenção de levar o trabalho para outros locais e que ele só será retirado da Câmara em caso de solicitação do presidente ou por meio de alguma determinação judicial. 

— Nós não achamos justo retirar o trabalho feito pela professora e pelos alunos, por causa da visão distorcida e de comentários de algumas pessoas — reforça.   

A Câmara  

O secretário-geral da Câmara, Flávio Ramos, informou que a exposição começou na quinta-feira, 7, e irá até o dia 20 de junho. De acordo com ele, a Câmara não faz censura prévia de conteúdos que serão expostos e apenas cede o espaço. 

Flávio Ramos disse ainda que não houve nenhum pedido formal para a retirada das fotos. 

 

 

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