Especialista revela inovações no tratamento do câncer

 

Ana Laura Corrêa

Não há barreiras para o tratamento oncológico de excelência na cidade de Divinópolis, segundo a médica Angélica Nogueira Rodrigues. Graduada em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com mestrado e doutorado na área de oncologia de tumores femininos e pós doutorado na Universidade de Harvard, a médica está à frente da Dom Oncologia, onde atua como oncologista de adultos.

Angélica também é presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos, pesquisadora e dá aulas na residência de oncologia da UFMG e em instituições fora do Brasil. A médica conversou com o Agora sobre câncer, os tratamentos disponíveis e prevenção.

Colo de útero

Um dos assuntos ao qual Angélica dedica seus estudos é o câncer de colo de útero. Segundo a médica, a doença é o câncer ginecológico mais comum no Brasil e o terceiro com maior incidência na população feminina brasileira.

— O câncer de colo de útero é totalmente evitável. Se a mulher fizer os preventivos e se as crianças e adolescentes forem vacinadas contra o HPV, essa doença pode ser evitada — explica Angélica.

De acordo com a médica, no Brasil, 16 mil mulheres por ano têm câncer de colo de útero. E aproximadamente seis mil jovens morrem por ano com a doença.

—Dedico-me muito pra aumentar a conscientização da importância do exame de papanicolau. Ele é gratuito e disponível nos postos de saúde. Toda mulher, ao início da vida sexual ou aos 18 anos de idade, deve fazer o papanicolau.  Infelizmente, várias acreditam que, por não sentirem nada, não precisam fazê-lo. No entanto, no início da doença, não existe mesmo nenhum sintoma. Apenas quando a doença está avançada e, muitas vezes, sem possibilidade de tratamento — explica.

Além do exame preventivo, existe também a vacina contra HPV, disponível pelo Sistema único de Saúde (SUS) para meninos de 11 a 15 anos e meninas de 9 a 15 anos. 

Tratamentos

De acordo com Angélica, o tratamento do câncer, inicialmente, era muito agressivo. Os pacientes eram submetidos a cirurgias radicais de remoções de órgãos, quimioterapias muito pesadas e radioterapias com fortes efeitos colaterais.

— Quando se fala em tratamento de câncer, é preciso pensar em um tripé: medicamentos, cirurgia e radioterapia. Nos últimos 20 anos, é possível falar que houve uma revolução no tratamento da doença mundialmente. Do ponto de vista medicamentoso, o que teve maior avanço, houve uma compreensão da biologia molecular do câncer e os tratamentos são cada vez mais direcionados a alvos que estão presentes no tumor e ausentes nos tecidos saudáveis. O problema da quimioterapia clássica é que ela não diferenciava o tecido saudável do doente e, com isso, era muito agressiva. Hoje a gente consegue ver pacientes com câncer de mama tratando a doença muitas vezes só com comprimidos, vacinas. A Dom Oncologia trabalha com o tratamento medicamentoso. Temos a tranquilidade de falar que oferecemos para o paciente o que há de mais moderno e seguro que está sendo feito em qualquer lugar do mundo — afirmou.

Imunoterapia

Outro avanço significativo, segundo Angélica, verificado no tratamento contra o câncer nos últimos cinco anos foi a imunoterapia.

— A imunoterapia é feita com medicamentos que tiram o freio do nosso sistema imune. Ela libera o nosso sistema imune pra agir contra a doença. Com isso, não são usados medicamentos citotóxicos, como a quimioterapia. A imunoterapia tira o bloqueio do sistema imune para agir contra a doença. Da mesma forma como quando o corpo reage contra uma gripe e controla a doença sem precisar de medicamentos. Com a imunoterapia, ajudamos o nosso sistema imune a batalhar contra o câncer com resultados muito impressionantes: o aumento de cura e, quando não é curável, o aumento de controle — explicou.

Acolhimento

Quando alguém é diagnosticado com câncer, logo surge a dúvida de como comunicar à pessoa sobre a doença. Alguns preferem esconder o diagnóstico do paciente, mas, para a médica, isso não deve ser feito.

— Uma das coisas que eu aprendi na prática clínica é que a verdade com leveza é sempre a melhor estratégia. O paciente na maioria das vezes sabe o que tem, mesmo se alguém tenta esconder. A dúvida é sempre pior do que qualquer verdade — defende a médica.

Segundo ela, é preciso lembrar que, hoje, existem muitas ferramentas para se tratar e curar o câncer.

— Mesmo no cenário de doença incurável, eu sempre falo com meus pacientes que existem várias doenças incuráveis. Tenho pacientes com câncer de mama incurável que estão vivos há dez anos tomando comprimidos. Então, tudo é uma questão de estabelecer um canal de apoio para que o paciente tenha a paz que ele precisa para enfrentar todas as etapas do tratamento. Isso é fundamental para que ele não falte no seu tratamento e tem impacto na cura. O paciente que se alimenta melhor, busca fazer atividade física e é confiante traz vários fatores positivos que ajudam no seu tratamento — explicou.

Pesquisa

Atuando também como pesquisadora, a médica afirma que o Brasil destina pouca verba para pesquisas na área.

— O que o Brasil faz, então, são parcerias com grandes centros internacionais de pesquisa. Na UFMG, temos uma parceria com a Universidade de Harvard. Fazemos pesquisas cooperativas, em que a gente manda material, manda dados e analisa em conjunto, mas o fomento mesmo é do exterior — explica.

Angelina Jolie

Em uma viagem para Paris, neste ano, a médica se encontrou com a atriz Angelina Jolie. Em 2013, Angelina passou por uma cirurgia para retirar os seios. A atriz perdeu a mãe, a avó e uma tia por câncer de mama e tinha 87% de chance de desenvolver a doença.

— Ela teve uma postura muito nobre de assumir uma mutação que ninguém precisava saber e mostrar o plano de cuidado que o seu médico teve com ela. Isso nos ajuda muito. Quando eu converso com a minha paciente e vou explicar que ela tem uma síndrome, é muito mais fácil mostrar uma mulher bonita, ativa, produtiva, que tem a doença e que a vida não mudou para a paciente não se afundar em um diagnóstico — destacou.

Prevenção

Como orientação em relação ao câncer, Angélica destaca a importância da prevenção.

— A prevenção e o diagnóstico precoce salvam vidas.  Se você sentiu algo que está fora do seu comum, procure ajuda. O câncer é cada vez mais uma doença curável, mais de 70% das pessoas têm a doença sanada. A cura é diretamente proporcional à busca de ajuda médica rápida — enfatiza.

 

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