Educação se mobiliza para cobrar dos vereadores
Maria Tereza Oliveira
A Educação mais uma vez foi protagonista na reunião da Câmara de ontem. Com a Casa cheia de professores, pais de alunos, além dos próprios estudantes do 9º ano das escolas municipais, o assunto foi tema principal na fala da maioria dos vereadores.
O Prefeito Galileu Machado (MDB) foi o principal alvo das críticas dos membros do Legislativo.
Os cartazes de protestos, além das cartas dos alunos que não sabem seus destinos no ano letivo de 2019, ditaram o tom da reunião. Em coro os professores entoavam: “Quem fecha escola, abre cadeia”.
Todos os vereadores que se pronunciaram, falaram sobre o assunto e a pauta foi a principal da seção.
Polêmica do contracheque
A maioria dos vereadores destacou a importância de pagar os servidores municipais da educação, sugeriram que o Executivo “corte da própria carne” para amenizar a crise causada pelos atrasos do repasses estaduais e mostraram cartas que os alunos escreverem. Entretanto, a vereadora Janete Aparecida (PSD) levou uma denúncia feita por uma professora.
De acordo com a vereadora, a servidora disse que, por causa do parcelamento do salário, estava tendo dificuldades em pagar suas contas. Para tentar negociar seu aluguel e conseguir parcela-lo, a professora decidiu pegar seu extrato bancário e o demonstrativo de pagamento para comprovar sua situação.
— Porém quando foi olhar seu contracheque, para sua surpresa, o valor era do salário integral, mesmo que o valor recebido fosse de apenas R$ 1 mil — revelou.
Janete falou que irá pedir um parecer jurídico e se realmente estiver errado, denunciará o ocorrido no Ministério Público (MP).
— Tem de constar no contracheque somente o valor que o servidor recebeu que é o certo.Precisamos conversar sobre isso — pediu.
Relato da classe
O professor José Heleno Ferreira, que leciona na Escola Municipal Padre Guaritá e na Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) contou o lado dos professores em meio a esta situação.
— É importante salientar que esta greve não é pelo reajuste salarial, mesmo que também seja uma luta justa, a greve é pelos pagamentos dos salários. Estamos reivindicando apenas aquilo que é nosso direito. Todos que trabalham merecem receber — destaca.
Ele revelou que muitos professores estão passando por dificuldades financeiras, devido a situação. O professor lembrou que todo trabalhador que não recebe em dia ou tem o salário parcelado, fica com dificuldades na gestão econômica de sua vida.
Projeto?
Quando questionado sobre o motivo da educação ser a primeira área a sofrer cortes, José Heleno destacou que este sempre foi o quadro no país.
— De acordo com Darcy Ribeiro, a educação no Brasil não está em crise, mas a crise é um projeto. Isso quer dizer que essa situação é um projeto político e nós pagamos por ele: por um projeto que não se interessa por investimentos na educação pública de qualidade — citou.
Ano perdido
A maior preocupação destacada foi a transição dos alunos que vão sair do Ensino Fundamental para o Ensino Médio. O problema é que nas escolas municipais não tem o 2º grau e, os alunos do 9º ano, irão mudar de rede de ensino: Estadual, particular ou Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet).
Janete disse que a greve pode fazer com que o ano escolar vá até março do ano que vem.
— Se a greve persistir como vai ser dos alunos do 9º do fundamental? As escolas vão aceitar alunos dois meses após o início das aulas? — questionou
Para José Heleno, caso a greve se estenda, cabe à Secretaria de Educação ter um diálogo com as outras instituições de ensino para melhor receberem estes alunos.
— Essa é uma situação inédita em Divinópolis. O que não é justo é que os professores sejam responsabilizados por este problema. A real responsabilidade é do Executivo — lembrou.
Futuros eleitores
As cartas enviadas pelos estudantes realçam a preocupação deles com a situação. Uma aluna do 9º ano da Escola Municipal Odilon Santiago contou qual foi a intenção de escrever aos vereadores.
— As cartas são para que os vereadores sejam avisados que os alunos têm noção de tudo o que está acontecendo. Eu fiz minha inscrição na prova do Cefet e, mesmo que eu passe, se a greve continuar não conseguirei estudar lá. Muitos colegas estão em situação parecida e, vale lembrar que nas próximas eleições nós já votamos — destaca.
De acordo com a aluna, os estudantes exigem soluções para os professores, porque os problemas deles afetam diretamente o alunado.
— Nós nem sabemos mais se conseguiremos formar ou se foium ano perdido — finaliza.
Outro lado
Sobre o contracheque, a Prefeitura informou que não como imprimir dois. Afirma que em outras situações semelhantes foi adotado o mesmo procedimento. No caso específico da reclamante, o Executivo informa que ela pode procurar o RH para resolver sua situação. Mais cedo, em nota a imprensa, a Prefeitura acusou pessoas de se promoverem à custa de um momento tão delicado, pelo qual passam os municípios.