E agora?

Rodrigo Dias

 O tsunami que sacudiu Brasília na última semana, provocado pela divulgação das delações premiadas dos donos e executivos da empreiteira Odebrecht, é, sem dúvida, o maior escândalo da política brasileira, já revelado. Os números são gigantescos. Ao menos 10,6 bilhões de reais foram desviados para pagar propinas de 2006 a 2014 e pelo menos 415 políticos, de 26 partidos, foram citados de alguma forma na delação da Odebrecht.

O escândalo dessa proporção domina o noticiário e as rodas de conversas. Do PT ao PSDB, passando pelo PMDB e inúmeros outros partidos, expoentes da política nacional foram citados e se tiverem culpa comprovada terão, sim, que prestar contas para a Justiça. Doa a quem doer.

Apesar dos valores envolvidos e pessoas também envolvidas nos negócios escusos da Odebrecht com o dinheiro público, a delação dos seus donos e executivos não revelou nada que fosse conhecido, enquanto prática, da imprensa, justiça, meio político e boa parte da opinião pública. A corrupção e o uso de propinas são práticas usuais nesta relação entre política e poder econômico, quanto a isso, as delações não trouxeram novidades.

Seria uma prática tão “normal e usual” que os executivos estavam liberados para fazer suas negociações com os políticos em troca de vantagens para empresa. Tudo acertado, provisionado e pago. Esquema apontado em planilhas que demonstram a eficiência desse sistema extremamente organizado.

Mas uma pergunta é crucial: O que sobrará do Brasil, no que tange a política?

A indignação que todos nós sentimos neste momento, por vezes, nos faz reduzir o real entendimento da situação atual. Com tudo que vem à tona percebe-se, mais do que nunca, que a corrupção é estrutural e não se resume a um partido ou a um político apenas.

Corrupção é crime e ela não tem tamanho, é igual na intenção. Repensar a política brasileira passa em entender bem esse fenômeno, a fim de cortar esse mal pela raiz. O momento é de transição... de por a sujeira pra fora e reconstruir. Essa reconstrução passa pela mudança do sistema político brasileiro, que efetivamente faliu.

Durante um bom tempo, continuaremos a votar em políticos inadequados. Até que essa fase de transição passe e consigamos ter uma nova mentalidade do que é o bem público e para que a política existe. Bem como termos outra qualidade de políticos.

Penso que no transcorrer desse processo, e com a mudança do sistema político, há de se acabar com certos vícios, principalmente aqueles que dão ao político a condição de se perpetuar no cargo que ocupa. Seja vereador, prefeito, deputado, governador, senador e presidente.

Ao longo desse tempo, da nossa parte - enquanto cidadão - cabe-nos aprender escolher melhor quem nos representará. Há um entendimento defendido por alguns que para mudar a política há de se mudar o brasileiro. Este raciocínio cabe discussão, mas mesmo assim ele tem lá sua razão.

Um exemplo vem da necessidade de acabar com esse “Fla Flu” em que se tornaram as discussões sobre política, principalmente nas redes sociais. Não devemos ter corrupto de estimação. Seja lá em qual legenda ele estiver. Reduzir a questão entre A e B não resolve, só maquia os nossos verdadeiros problemas com a política brasileira, que está cercada de corruptos por todos os lados.

Entender todas essas coisas é um exercício de longo prazo e que deve ser feito com a razão. Deixando as paixões de lado.

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