Dias de posse

A América Latina assistiu, nessa primeira quinzena do novo ano, a duas posses presidenciais, do Brasil e Venezuela. Emblemáticas, cada qual anunciando rumo político-ideológico diferente. Bolsonaro promete desconstruir plataforma de governos populistas e democráticos anteriores, substituindo-os por ação pragmática de natureza militar e fascista, com judiciário e tudo. Nicolás Maduro, por sua vez, persiste no caminho socializante, embora a enfrentar boicote de nações pró-imperialistas, estadunidenses, especialmente.

No caso brasileiro, as solenidades oficiais se revestiram de artificialismo ufanista, historicamente nada comum. Milhares de soldados do exército, da polícia militar e bombeiros preencheram todos os espaços terrestres adjacentes ao Palácio do Planalto, enquanto o aéreo era ocupado por forças armadas, autorizadas a coibir miragens de aeronaves e movimentos considerados estranhos. Um aparato de guerra sem precedentes na história deste país. Não pouparam, sequer, seus organizadores, jornalistas estrangeiros, credenciados para cobertura dos festejos, confinados em sala do Itamaraty, inibidos, por horas, de tomar água ou satisfazer necessidades fisiológicas.

Estimam-se um mínimo de R$ 1 milhão de gastos nessa farra, de pura hipocrisia, a qual teria perdurado só no Congresso Nacional cinco horas. O dinheiro, se investido em um hospital carente de recursos financeiros, daria para comprar em torno de 936 camas-leito simples. À noite, no Itamaraty, perante 46 delegações internacionais e demais convivas, erguia-se um festival de caviar e de taças, enquanto três mortes poderiam estar ocorrendo no Brasil, por falta de leitos e medicamentos nos hospitais.   Espetáculo que fugia da confraternização universal, em uma demonstração mais de poderio bélico do que cívica, em um claro recado à nação do norte.

Desde a posse de Collor, em 1990, esta foi a de mais baixo quorum. A de Dilma, em 2011, alcançou 130. Talvez movida pelos ataques que sofre, a posse de Maduro contou com o prestígio de 94 autoridades máximas do mundo, a partir de uma delegação da ONU. A Organização da Unidade Africana (OUA) esteve lá, ao lado da representação da Opep; do enviado especial do pres. chinês Xi Jimping; chanceleres e autoridades diplomáticas, da Rússia, Turquia, Irã, Palestina, Argélia, Síria, Egito, Iraque, C. do Norte, Vietnã, e outros países. Cuba, El Salvador, Nicarágua e Bolívia levaram sua solidariedade pessoal ao mandatário venezuelano, bem como Gleisi Hoffmann, entidades e partidos políticos, em nome do povo brasileiro.

Por menor exibição, há cem anos o paraibano Epitácio Pessoa assumia a 11ª Presidência da República, mandato que exerceu com dignidade.

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