Diálogo
Leila Rodrigues
Duas amigas de longa data se encontraram para um café. Enquanto bebericavam e jogavam conversa fora, a filosofia surgiu.
— O contrário de evoluir é o quê?
— O contrário de evoluir é “involuir”. Por quê?
— Às vezes eu acho que estamos “involuindo”.
— Como assim? Estamos andando de ré? Fale-me mais sobre isso, amiga.
— Veja bem, antigamente, lá no tempo de nossas mães, qual era a coisa mais importante do mundo para uma mulher?
— Essa é fácil. Nos tempos de nossas mães, o grande desejo das mulheres era casar. As mulheres eram criadas para isso. Estou certa?
— Você está certíssima. Toda mulher queria se casar e ter filhos. Mas aí veio a revolução feminina, teve aquele negócio de queimar o sutiã e o que foi que passou a ser a coisa mais importante do mundo?
— Bom, depois de tirar o sutiã, a coisa mais importante do mundo para as mulheres passou a ser a carreira.
— Você acertou de novo. Quando fomos para a faculdade. Lembra? O que escolher, para onde ir. Muito bom! Mas e o que aconteceu depois da carreira?
— Depois da carreira a mulher quis decidir a própria vida. Ela aprendeu a pedir divórcio, aprendeu a não aceitar a violência, aprendeu que podia fazer escolhas.
— Lindo! Maravilhoso! Isso é que é evolução! Foi nessa época que a Glorinha se divorciou do Paulo, a Mariana foi viver com o Francisco. Bons tempos também! E aí veio o quê?
— Ah, minha amiga, depois veio a era das atitudes. Carreira, marido, filhos, orientação sexual, negócios, religião. A mulher aprendeu a ter opinião, escolher e agir. Acho que essa foi a nossa maior evolução.
— Mas e depois disso?
— Depois disso é agora. O que é mais importante na vida de uma mulher hoje? Confesso que não sei. Fiquei confusa.
— Você está ficando velha mesmo! Não reparou? Depois de tantos anos evoluindo a mulher acaba de decretar que fazer escolhas, carreira, dinheiro, filhos, marido, diploma, prazer... Tudo isso ficou secundário. Na era da beleza, a coisa mais importante na vida de uma mulher é ser magra. Depois de ser magra, é importante ter cabelos lisos e depois dos cabelos lisos... Aí você já sabe!
— Ô, dó! Estavam indo tão bem...