Desencontros

Leila Rodrigues

Ele queria silêncio, ela queria falar. Ele tinha pressa, ela tinha fome. Um esperava que o outro fizesse, o outro esperava que o “um” dissesse. E, assim, cada um sofria em seu canto as expectativas frustradas pelo outro. 

Nascemos para nos comunicar. Passamos a vida inteira aprendendo a nos comunicar. Cursos, palestras e livros sobre comunicação assumem o topo das demandas. Tenta-se de um jeito, recomeça de outro, muda uma coisa aqui, descobre outro jeito ali e, ainda assim, depois de tantos reajustes para melhorar a comunicação, nos deparamos com os problemas na hora de nos comunicarmos.. Pode ser com um filho, com o parceiro, com um amigo, com o colega de trabalho, o sócio, o cliente... Enfim, com qualquer pessoa. 

É que o espaço entre o que um fala e o outro ouve é infinito! E muitas vezes vira abismo. Vira discórdia, vira desencanto, vira fim. Que pena! O campo das intenções e o das interpretações não se entendem. 

Desencontros, desafetos, desacordos... Desfechos. Desencontros que acontecem com todos nós e que podem mudar para sempre o curso da nossa história. 

Partindo do princípio de que são todos seres da mesma espécie e que são todos homens de boa vontade, não deveria ser mais fácil? Penso que sim! O que dificulta é que queremos que o outro fale a nossa língua, compreenda nossas vírgulas; enquanto isso, do lado de lá, o outro espera que interpretemos seus hiatos. E mais uma vez intenções e interpretações não se entendem... 

Para resolver, muitos saem pela tangente e optam pelo silêncio, pela distância, pelo “cada um por si e Deus por todos”. Optamos pelo celular e pelas conversas que dispensam a alma. É tudo tão efêmero, tão líquido que facilmente se escorre pelos dedos. Relações que com a água de um banho quente vão para o ralo. Simples assim! Relações que não agregam, não preenchem nem desafiam. Apenas coexistem em seus mundos equidistantes. 

Independentemente se você escolheu uma relação assim ou se você apenas se escondeu do confronto, em algum momento nos cansamos dos vazios providenciais e voltamos nossos olhos para aqueles que são realmente importantes para nós. Neste momento, não há nada a ser dito, nada a pedir, nada a esclarecer. 

Gastamos tanta energia aprendendo a falar, debatemos e defendemos tanto nossas falas... Para descobrir que nada melhor que o velho e bom silêncio para dizer e ouvir tudo que é preciso. 

Silenciar também é uma forma de se comunicar. Pense nisso!

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