Depressão infantil: como perceber os sinais?

Crianças também estão propensas à doença; profissional explica que pressões podem influenciar

Maria Tereza Oliveira

Dando continuidade à série de reportagens iniciada na semana passada sobre o “Setembro Amarelo” e a valorização da vida, o assunto de hoje é um tabu: depressão infantil. Apesar da depressão em si, ser mais debatida, e ser tema de várias campanhas, casos na infância não são muito abordados. Há uma ilusão de que crianças são sempre sorridentes e alegres. Porém, mesmo assim, elas não estão imunes à depressão. Para explicar o tema, o Agora entrevistou dois profissionais da área da psicologia.

A depressão é um transtorno psiquiátrico que pode atingir pessoas de qualquer faixa etária e qualquer gênero. Sabe-se que o desânimo e os demais sintomas da doença são provocados por desequilíbrios cerebrais, com a diminuição de neurotransmissores como a serotonina, hormônio ligado à sensação de prazer e bem-estar. 

No Brasil não há estatísticas precisas, mas estima-se que 2% a 3% das crianças até 12 anos sofrem com a depressão.

Pressão

Existe a falsa impressão de que crianças não têm de lidar com pressões. No entanto, a psicóloga clínica e pós-graduanda em terapia cognitivo-comportamental, Jéssica Jheniffer Ferreira, salienta que o padrão corporal – que impõe formas – é visto desde a infância, inclusive com os artistas mirins. Ela apontou os problemas que a falta de representatividade pode acarretar para a saúde mental das crianças.

— Alguns fatos me chamaram a atenção na clínica, nos quais crianças de pele negra não aceitavam sua cor pelo simples fato de não se encaixar no que a principal personagem da novela era. Outro fator que envolve é o ensinamento de que as crianças atuais não são ou vestem como crianças comuns. Isso faz com que os adultos achem que quanto mais parecidas com os pais, mais lindas as crianças estão. Assim, involuntariamente, ela entende que ser padrão é o correto, e ser singular nos gostos e desejos já não é tão aceito — alertou.

Mais frequente

Jéssica revela ainda que a depressão infantil tem sido recorrente nos consultórios.

— O grande desafio para os pais e educadores são as relações emocionais e interpessoais vividas pelas crianças durante seu desenvolvimento. Algo que deve ser levado em consideração são as possíveis perdas que as crianças passam, como falecimento de algum ente querido ou amigo próximo. Fora esse episódio, os pais precisam analisar se houve mudanças nas atividades desenvolvidas pela criança — alertou.

Dentre os sintomas que uma criança que está sofrendo de depressão apresenta, a psicóloga destaca a perda de interesse nas brincadeiras; mudança de sentimentos repentinos (hora muito triste, hora extremamente agitada e feliz); aparecimento de choro e irritabilidade fora do comum; diminuição ou aumento do apetite; baixa autoestima; dores sem causa médica; falas sobre querer sumir ou morrer; medos que antes não existiam; aumento do sono ou episódios de insônia; não querer tomar banho e cuidar do corpo; diminuição no rendimento escolar e automutilação.

— Sempre que a criança apresentar algum destes sintomas, é necessário que realize uma consulta pediátrica, pois pode ser algo orgânico, além de psicológico. O envolvimento da rede de apoio familiar é de grande importância neste período — destacou.

De acordo com Jéssica, algo que parece simples, mas que pode ser útil no controle e melhora nestes casos, é a inserção de atividades físicas.

— Na clínica pode ser trabalhada a musicoterapia e a arteterapia, nas quais a criança é incentivada a explorar campos de satisfação através do fazer e do brincar. As crianças são como esponjas, então, quando são colocadas com pessoas que se ofendem e que não demonstram qualquer respeito pelo outro, seu comportamento será baseado nestes exemplos — comparou.

Consequências para toda a vida

O psicólogo Erick Rafael Barbosa também falou à reportagem sobre o assunto. Ele explicou que, além do risco de suicídio, a criança com depressão pode levar consequências para o resto da vida.

— Muitas coisas que aconteceram em nossa infância e não foram devidamente cuidadas e tratadas refletem em nossos relacionamentos com as pessoas, fugas de situações específicas e outros eventos quando adultos. É necessário entender e diferenciar o comportamento de uma criança sem depressão e outra com depressão. Um grande aliado é o desempenho escolar, que, na maioria das vezes, é afetado quando a criança está com depressão — alertou.

Apoio

A Polícia Federal foi um dos órgãos que aderiu a campanha “OAB pela vida”.

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