Dedo na ferida

Preto no Branco

A coluna aborda, pela segunda vez nesta semana, o egoísmo e a falta de empatia das pessoas nos dias de Carnaval. Aglomerações regadas a bebidas e, em alguns casos, drogas ilícitas. O depois? Que nada! Ninguém se lembra nestes momentos que tem idosos em casa ou parentes com comorbidades. O negócio é pensar no próprio umbigo, celebrar como se não houvesse o amanhã e sem sequer cogitar a possibilidade de ter um familiar agonizando em uma UTI com insuficiência respiratória aguda. E a coluna colocará o dedo na ferida novamente hoje, em mais uma tentativa de alerta, afinal, essa é a nossa função. Pois bem, a irresponsabilidade e a falta de amor ao próximo não param por aí. Em Divinópolis, onde aglomerações foram dispersadas pela Polícia Militar (PM), o egoísmo chega ao extremo de se marcar reuniões somente para infectar pessoas, situação relatada por uma mãe desesperada ao Agora. Ela descobriu que a amiga da filha estava com covid-19 e mesmo assim marcou uma festinha com 11 pessoas. O objetivo? Contagiar a todos, o que havia virado sua meta depois que descobriu ter sido contaminada. Acredite se quiser: tem gente que não parece, mas é capaz disso e muito mais. Triste, porém real. 

Não poupa 

Esse roteiro, que parece tirado de um filme de terror, ocorreu em um bairro de classe nobre de Divinópolis, e a adolescente/jovem pertence a uma família conhecida na cidade. Além de contaminar seus amigos, ela não estava disposta a poupar ninguém. Queria porque queria também ter contato com a mãe portadora de doença crônica, o irmão menor, outros amigos e até com a avó idosa. Maldade ou grito de socorro? O que se sabe é que o encontro com as amigas, a mãe de uma delas (a que revelou ao jornal) conseguiu evitar, mas, ao ver conversas da amiga com a filha, viu que insistia na festinha. A mãe conseguiu evitar, porém, dos outros – que eram convidados – não se tem notícia, pois o contato foi cortado. Caso a mãe não tivesse alertado, quantas pessoas poderiam ter sido contaminadas? Quanto à garota, quando soube que a festa havia sido frustrada e que não teria como retornar ao lar, ligou para a mãe. Desafiadora, mandou uma foto comendo sanduíche com outra amiga e rindo. Falta de remorso? De sensibilidade? De amor ao próximo ou grito de socorro? 

Sentença de morte 

Então, muitas vezes as aglomerações não são para festejos, e sim porque alguém contaminado quer que outras pessoas próximas sintam o mesmo. Sim, há pessoas capazes disso, muitas sem nenhum remorso e dispostas a atos inconsequentes e insanos. Quando a polícia chega, o mal já pode ter sido feito, pois os militares apenas recolhem drogas, bebidas e desfazem a aglomeração, mas o mortal vírus é silencioso. Aglomeração em tempos de covid-19 não celebra a vida. Pode ser sentença de morte. 

‘Não sou Deus’ 

O assunto saúde sempre foi e será um tema delicado. Isso em todas as esferas e formas de se lidar com ela, envolvendo governantes, profissionais da área e a própria população. Como citado acima sobre a “contaminação de rebanho” que a jovem “cismou” em promover, outras situações chocam. Mas a questão vai muito mais além e é ainda mais dolorida para a maioria. Quem precisa do serviço público de saúde no Brasil sabe bem como é desesperador. Nossa querida Divinópolis não foge a esta realidade, é claro. Entre idas e vindas à UPA em cerca de 20 dias e quatro de internação, uma avó foi obrigada a ouvir de uma médica que atende na unidade de saúde: “Não sou Deus”. Sem saber o que fazer, a exemplo de sua filha, mãe da menina de 1,7 ano, apenas quis saber o que a menina poderia ter, já que à medida que os dias vão passando, o quadro se agrava e nenhum diagnóstico é apresentado. Perplexas com a resposta, não tiveram reação. Uma pena! Pois poderiam ter respondido a esta que se diz “médica” que educação e cordialidade cabem em todo lugar, especialmente em momentos delicados. E que elas não têm culpa de sua insatisfação e, mesmo assim, pagam seu salário. É bom que o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS), que faz a gestão da UPA, e a Secretaria Municipal de Saúde fiquem atentos com este tipo de profissional, pois a unidade de saúde já tem problemas demais para responder e resolver ‒ inclusive, uma CPI em andamento. Aberrações como estas são vistas com frequência e, infelizmente, podem ter fim apenas quando o salvar vidas voltar a ser mais importante do que o dinheiro.

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