Crianças abusadas dão sinais, alerta especialista

 

 

Ana Laura Corrêa 

O tema infância deverá estar presente no debate político da próxima eleição, defende a pedagoga, advogada e assessora jurídica do Senado Federal, Damares Regina Alves. Ela alerta para os sinais que as crianças dão quando são abusadas.

Damares assessora, atualmente, a CPI dos maus-tratos contra crianças e adolescentes. A advogada estará em Divinópolis hoje para abordar o assunto no Seminário de Capacitação de Agentes pela Vida, que ocorre das 9h às 13h no auditório vermelho da Faculdade Pitágoras.
— O objetivo maior é mostrar o que está acontecendo com a infância por meio de estatísticas. Também iremos expor a necessidade de uma rede de proteção à infância. Todos terão de se unir: igreja, sociedade, imprensa, instituições públicas e privadas. Teremos de engolir as nossas diferenças e entender que o que nos une é maior: a infância. O tema deverá estar no debate político da próxima eleição. Ouvimos falar de economia, fronteira, privatização, mas não se ouve falar de infância. Precisaremos exigir dos nossos representantes uma postura bem clara sobre a infância no Brasil — explicou.

Números 

De acordo com Damares, os números sobre a infância no país são assustadores.

— O Brasil recebeu o título de pior país da América Latina para se criar meninas. Um dos critérios usados foi o abuso. Uma em cada três meninas no Brasil é abusada sexualmente até os 18 anos de idade, de alguma forma. Isso é apavorante. Um terço das meninas significa um terço das mulheres. Uma menina abusada é uma mulher infeliz, destruída — alertou.

Ainda de acordo com a assessora, pesquisas apontam que, em todo o mundo, a criança brasileira é a que mais tem medo de violência. Além disso, segundo Damares, a criança brasileira é a mais estressada do mundo.

—Há países na Europa que ficam meses no escuro sem ver o sol, as crianças ficam trancadas em casa e as brasileiras são as mais estressadas? Há algo muito errado com a criança no Brasil. Outro dado que tem nos assustado muito é que o Brasil tem o título de quarto país do mundo com mais casamentos infantis, só perdemos para a Índia, Bangladesh e Nigéria. E todos acham que isso acontece principalmente em países muçulmanos — disse.

Sinais 

Segundo a assessora, as crianças mandam sinais, por meio de desenhos, por exemplo, quando estão sendo abusadas sexualmente.

—Quando a criança começa a desenhar sempre um homem com cara de monstro e ela acuada, ou um homem muito grande e ela muito pequena, ou ainda a mãe muito grande e ela muito pequena, quando a criança começa a desenhar com frequência ela na cama e sempre um adulto com ela, podem ser alguns sinais — explicou.

Além disso, segundo Damares, há uma técnica com bonecos que permite identificar se a criança está erotizada.

 — Dando bonecas e bonecos para as crianças brincarem, observando a forma que elas tocam e fazem os bonecos se tocarem, é possível observar se a criança está erotizada ou não. Muitas crianças que são abusadas ficam erotizadas — alertou.

De acordo com a assessora, o fator mais nítido que possibilita reconhecer se a criança está sendo abusada é a mudança de comportamento.

— Há um quebrantar no olhar, muitas perguntas sobre a questão sexual. Além disso, muitas crianças que são abusadas acabam se masturbando em excesso. Há, ainda, a demonstração de medo, o sono perturbado, a falta de apetite e o baixo rendimento na escola. Tudo se compromete — disse.

Temas 

O abuso de bebês, a automutilação de crianças e adolescentes, os maus-tratos em escolas, os maus-tratos contra crianças indígenas, o suicídio e o trabalho infantil também serão temas abordados por Damares no evento.

— Ainda temos mais de um milhão de crianças no Brasil trabalhando — disse.

A participação no seminário é aberta ao público e a entrada é gratuita. A programação do evento inclui também as participações da juíza Andréa Barcelos, do delegado regional Leonardo Moreira Pio e do promotor de Justiça Carlos Fortes.

 

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