Crepúsculo da Lei – XIX

 

MARXISMO CULTURAL (HEIN???!...)

Esquizofrenia é uma palavra de origem grega e significa mente dividida, em alusão ao fato de os portadores desta doença viverem em (outra) realidade dúbia.

Há algo de esquizofrênico no Brasil por conta de duas, ou mais, realidades distintas que se apresentam: Uma dos governantes, outra do governo. Recentemente os governantes afirmaram que nossas universidades públicas não desenvolvem pesquisas. Ocorre que os dados do governo apontam o contrário: entre 2011 e 2016, das vinte universidades que mais produziram pesquisas, quinze são públicas e cinco particulares.

Governantes insistem em atacar o ensino superior, notadamente as universidades públicas, mediante ameaças de corte de verbas. São ataques muito mais contundentes contra o ensino de humanidades, como filosofia e sociologia. É nesse sentido que um governante tuitou, citando outro governante:

- “O ministro da educação estuda descentralizar investimentos em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte como veterinária, engenharia e medicina. A função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando para os jovens a leitura, escrita e a fazer contas, e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família...”. Instalado, pois, um conflito entre habilidades (fazer conta) e humanidades (filosofar).

Ocorre que os dados do governo já demonstram que as áreas de ciências humanas e sociais já recebem menos verba que a área de exatas. São duzentos e vinte e cinco milhões e meio para as humanas, e quase duzentos e quarenta e cinco milhões para as exatas e da terra. Estas últimas são as áreas que mais recebem recursos do governo para pesquisa. Ora, qual a razão do ataque?

Ao que parece a resposta está ligada a um fantasma – esquizofrenia e fantasmas possuem laços bem estreitos – chamado marxismo cultural. Este troço é muito esquisito, algo parido por fórceps das tais teorias da conspiração – que também têm afinidade com esquizofrenia. O tal marxismo cultural seria parte de um diabólico plano comunista de dominação global em andamento, mas combatido e evitado pelo capitalismo ocidental e pelo conservadorismo cristão. Algo como um novo demônio ressurgido da idade média depois de algum tempo escondido.

Por trás deste plano maligno estariam blocos eurasianos e blocos islâmicos (esforçando-me para não rir, sério!) os quais estariam trabalhando na construção de uma religião biônica global (se Guimarães Rosa estivesse vivo talvez dissesse tratar-se do novo cão, ou um capeta cibernético).

De acordo com esse plano satânico, a grande arma dos comunistas eurasianos seria o tal marxismo cultural, identificado como uma ideologia de dominação mundial perpetrada por professores universitários, a partir de práticas de doutrinação e lavagem cerebral em salas de aula para, com isso, estabelecer um governo global. Os ataques às universidades e aos professores estariam desta forma justificados como meios de combate a este nefasto golpe.

Creia-se ou não numa bizarrice destas. Mas há precedentes. Na idade média o livro utilizado para perseguir, prender, torturar e queimar bruxas chamava-se Malleus Maleficarum, o Martelo das Feiticeiras. Logo na primeira página deste livro está escrito que a pior das heresias é não acreditar em bruxas. Ao parece seremos obrigados a acreditar em muitas coisas que vêm por aí. Haja esquizofrenia!

 

           

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