CREPÚSCULO DA LEI – XXXVI – O ESTRIPADOR E OS ESTUPRADORES

Em 1876 foi publicado um estudo clássico da antropologia criminal chamado “Tratado Antropológico do Homem Delinquente”, do frenologista e pesquisador da Universidade de Turim Cesar Lombroso (1835 – 1909). A contestável obra apresenta dados físico-antropológicos do criminoso que, segundo as conclusões do autor, oferecem a possibilidade de se estabelecer a figura de um criminoso nato.

Lombroso ensina que o criminoso não dispõe do livre arbítrio, mas é um ser atávico e de essência animalesca, trazendo dentro de si o instinto violento que, cedo ou tarde, vem à tona, sendo necessário reconhecê-lo pelos traços físicos e contê-lo. Teoria da defesa social.

Dez anos depois, em 1886, e influenciado por Lombroso, o escocês Robert Stevenson (1850 – 1894) publicou o clássico “O Médico e o Monstro”, uma obra que, posteriormente, o próprio Stan Lee (1922 – 2018) também admitiu ter-lhe influenciado na criação do herói (?) dos quadrinhos “O Incrível Hulk”, de 1962.

 Ora, o livro de Stevenson conta a história de um médico (Dr. Jekyll), que se transforma em outra criatura (Mr. Hyde) depois de ingerir uma substância feita com sais indianos, trazendo à tona seus mais ocultos e sombrios instintos.

E ainda na sequência, em 1888 - dois anos depois do livro de Stevenson –, começa a atuar em Londres o famoso serial killer “Jack, o Estripador”, uma figura extremamente macabra, dotada dos piores e mais violentos instintos concebíveis a um ser humano. Comprovadamente matou cinco prostitutas, mas as investigações da época lhe atribuíam cerca de onze feminicídios.

Jack, o Estripador, recebeu esse apelido por conta de anônimos em cartas enviadas à polícia - inclusive uma delas com endereço de remetente bem nefasto: “Do Inferno”. Mas o apelido combinava bem com o modus operandi do criminoso, que se deslocava pela penumbra noturna - fumaça carvoeira das indústrias de Londres - para atacar suas vítimas, rasgando-lhes o abdômen e deixando suas vísceras (tripas) devidamente expostas: um verdadeiro estripo.

Uma das trágicas vítimas do estripador foi uma mulher chamada Catherine Eddowes. Obviamente, seu estripado cadáver foi periciado, mas com ele havia um xale que chamou a atenção romântica de um policial. Depois de tê-lo subtraído, fez de dá-lo de presente à esposa. Claro que ela quase teve uma parada cardíaca ao ver nele vestígios de sangue.

Em 2007, este mesmo xale, agora peça histórica e nunca lavada, foi leiloado e arrematado por um sujeito chamado Russell Edwards, pesquisador de Jack, o Estripador e, em 2014 ele submeteu a peça a exames de DNA, envolvendo descendentes tanto da vítima como de suspeitos relacionados pela polícia – nos exames foram encontraram até restos de sêmen - e, finalmente, chegou-se ao nome do autor: Aaron Kosminski, comprovadamente o histórico Jack.

Kosminski já estava na lista de suspeitos da polícia e era vigiado. Era judeu vindo da Polônia, vivendo em Londres e trabalhando num salão de cortes de cabelo. Colegas já diziam que tinha comportamento delirante. Possuía instinto homicida alimentado por intenso ódio às mulheres. Um misógino. Morreu em 1899, aos 53 anos, em um hospício inglês.

Por causa de Jack, o Estripador, é que se faz grande confusão entre estripo e estupro. Até os estupradores são chamados de “Jacks” na gíria penitenciária e devem ser colocados em celas separadas, exatamente para não serem estripados por companheiros raivosos.

Lombroso adoraria ter estudado o tal Kosminski. Stevenson provavelmente teria medo dele. Quanto ao incrível Hulk... Melhor nem pensar!

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