Construir pontes

Rodrigo Dias

O ego sentencia o homem. Ele dá o ritmo à vida. Pode ser libertador ou deixar o homem refém e só de si. O ego pode ser super ou simplesmente nada, extremo.

Terreno movediço, ele dá falsa sensação de força. É porta escancarada para nossas fraquezas, que deixam o indivíduo vulnerável. Carente do que é nobre e que dá real sentido ao ser.

Balão cheio de nada que se sente belo, mas basta um alfinete ou a luz do sol intenso para perder o seu sustento: o nada que se vai. Murcho, balão já não tem serventia. Não enfeita.

Na caverna se escondem outros. Na sua escuridão de luz ignoram quem se molha com a chuva. Sentem-se protegidos ali e julgam como loucos aqueles que se expõem ao tempo e suas intempéries.

Equilibrado é o que sai de guarda-chuva colorido e de pés descalços. Ele se protege da chuva, mas a sente com os pés. Diverte-se e não se leva tão a sério, mas tem a cabeça guarnecida e que não se molha.

O bom do ego é o juízo que se faz. A certeza do que está em volta ou dentro. Do que pode interferir ou não. O centro, como em todas as coisas sadias da vida, é o equilíbrio.

O bom senso é que dá o norte e que também ancora o homem. Em dias instáveis, permite travessias ou simplesmente o recolhimento. O bom senso esclarece que o universo é maior e que por mais intenso que possa parecer o brilho, nós somos centelha.

Por outro lado, por menor que seja a faísca, ela é vital para o brilho do cosmo. A beleza vem do brilho de cada ponto e sua intensidade está ligada, porque não, à distância que se vê. Quanto mais perto, mais luminosidade. Maior a beleza.

Ego, então, é uma questão também de perspectiva. Sendo assim, o recomendável é encontrar o melhor ângulo para contemplação. Um que não ofusque ou que dê uma visão errada do brilho.

Ter esse entendimento é o início da compreensão de que somos limitados e por ser assim, tem que se treinar o olhar. Sem endurecer o sentido e permitir ser tocado.

Vivemos o advento do ter. Para transpô-lo é necessário construir pontes para o ser. A primeira etapa dessa obra é o entendimento da necessidade de mudança. Somos seres frágeis a nós e ao meio.

O ego corrói, mas também constrói.

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