Consciência negra sim

 Rodrigo Dias

 

 O mimimi do dia é o embate entre a “consciência humana” e a “consciência negra”. As teses a este respeito são várias e estão acalorando vários debates nas redes sociais.

Com todo respeito a quem entende o contrário, penso que a tal “consciência humana” é o modelo ideal, entretanto, se constitui, no momento, numa utopia se considerarmos o Brasil de hoje em que entre os mais pobres é o pobre negro o mais penalizado.

De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas (ONU) é a população negra a mais afetada pela desigualdade e violência no Brasil. Para se ter um exemplo deste fato, o Atlas da Violência de 2017, lançado pelo Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (IPEA), revela que a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. O que significa dizer, segundo esse estudo, que o povo negro tem 23,5% de chances a mais de ser assassinado.

A vulnerabilidade que é submetido o negro não para por aí. Ainda segundo o IPEA, 67% dos negros recebem até 1,5 salário mínimo. Entre os brancos esse índice é de 45%. Entre as vítimas do desemprego, 63,7% são desocupados negros o que corresponde 8,3 milhões de pessoas. Estes dados são do IBGE que revelou também que no primeiro trimestre de 2017, o rendimento médio entre trabalhadores negros foi inferior aos dos trabalhadores brancos; 1,5 mil e 2,7 mil reais, respectivamente.

Esses são alguns dados que demonstram o abismo social entre a população negra/parda em relação à branca no Brasil. Diante disso, não há como romantizar a tal “consciência humana” e desconsiderar a “consciência negra”.

Reconhecer a desigualdade entre negros e brancos não é vitimizar-se e sim tomar sentido que a condição atual do negro no Brasil é em decorrência de uma exploração histórica. Ter conhecimento deste fato é o passo mais importante para uma mudança de paradigma.

Neste sentido, a data da Consciência Negra - entre outras manifestações igualmente importantes - serve para reverenciar o passado de luta do povo negro e estimular as gerações atuais a serem protagonistas do seu destino. Valorizando seu talento, criatividade e trabalho.

Enquanto a opção for pela passionalidade e não pela racionalidade e, portanto, pela a consistência dos argumentos; as redes sociais continuarão a ser arenas para se digladiar e ferir o outro. E não uma ágora onde o pensar, somado, prevalece e transforma.

Assim sendo, consciência humana passa por respeitar a opinião e a história do próximo.

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