Complexo rebate acusações de vereadores

Matheus Augusto

O Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD) foi, mais uma vez, um dos assuntos tratados na reunião de terça-feira, 17, da Câmara. O vereador Josafá Anderson (CDN) abordou novamente o tema durante seu tempo de fala e criticou a gerência dos leitos na cidade e a forma como a distribuição de vagas acontece. Seu discurso também teve o apoio de outros edis. Em nota ao Agora, o CSSJD esclareceu os pontos abordados e explicou que está organizando uma coletiva de imprensa com a superintendente Geral do hospital, Elis Regina Guimarães, e os gestores de Saúde do Município e do Estado para explicar como funciona o fluxo de regulação de pacientes na região.

SUS Fácil

A primeira crítica feita pelo vereador Josafá Anderson, e que já havia sido abordada anteriormente por ele, diz respeito às prioridades de atendimento dentro do CSSJD, através do programa Sistema Único de Saúde (SUS) Fácil. A ferramenta tem como finalidade agilizar o atendimento hospitalar e ambulatorial de média e alta complexidade, bem como os serviços de urgência e emergência. Assim, quando há a internação do paciente, as informações dele são colocadas no sistema e os médicos reguladores buscam pelo leito hospitalar mais adequado ao caso. Apesar disso, pacientes em situação graves continuam classificados com prioridade máxima.

— O SUS Fácil é um SUS difícil. Não adianta me coagir que eu voltar a afirmar que esse SUS não é fácil, é difícil. E parece ser tendencioso, eu tenho que falar disso. Eu não sou representante de hospital, eu não sou representante de médico. Eu sou representante da população. (...) e também faço parte da Comissão de Saúde — destacou Josafá.

Em nota, no último dia 13, o Complexo de Saúde São João de Deus explicou que o sistema é de responsabilidade do Estado, cabendo ao hospital apenas informar quantos leitos estão disponíveis. Além disso, a instituição ressaltou que, no caso do Samu, todas as vítimas são atendidas sem qualquer distinção. Sobre outra crítica feita, o CSSJD já havia informado, no dia 13, que não é de sua responsabilidade determinar quem será ou não atendido.

— O São João de Deus não possui governabilidade sobre as portas de entrada ou, muito menos, conhecimento de quem são os pacientes trazidos até a instituição. O fluxo de admissões, internações e transferências no âmbito do SUS é rigidamente regulado pelas normas e premissas próprias deste sistema, não sendo dado a qualquer hospital autonomia para “escolher” os casos que serão recebidos para tratamento — ressaltou.

“Hospital não tem que dar lucro”

O vereador Adair Otaviano (MDB) endossou as críticas feitas por Josafá e afirmou que o atendimento a pacientes pelo SUS têm sido mínimo.

— Tudo parece que está correto, segundo a gestora do Hospital. Mas, para nós, que estamos aqui de fora, está tudo errado. O São João de Deus, nós vimos no passado, foi criado para atender os pobres. Mas as pessoas que precisam, hoje, só entram lá conveniadas ou se pagar particular. [Pacientes pelo] SUS é um mínimo que vai para lá. Eu já denunciei aqui, acho o cúmulo do absurdo — afirmou.

Ele também destacou que não cabe a um hospital visar à obtenção de lucros.

— Eu já vi pessoas falarem dentro da Câmara que o hospital está dando lucro. Ele não veio para dar lucro, mas para salvar vidas. E não é vantagem nenhuma o gestor de um hospital do porte do São João de Deus falar que o hospital está dando lucros quando as pessoas que precisam do Sistema Único de Saúde estão morrendo na UPA ou em cidades longe de Divinópolis, pessoas que deram tudo delas aqui na nossa cidade, e, quando precisam do hospital, vão morrer longe. Hospital não tem que dar lucro, hospital tem que salvar vidas — ressaltou.

Em nota enviada ao Agora ontem, o CSSJD esclareceu que, em nenhum momento, o hospital fez afirmações neste sentido.

— Em relação à declaração do edil Adair Otaviano, o mesmo está totalmente equivocado, uma vez que nunca foi dito que o “hospital dá lucro”, pois a instituição é filantrópica. O que temos é um resultado positivo que é revertido para a sua manutenção, e ainda poder realizar todos os investimentos que necessita — explicou.

O hospital ainda declarou que, apesar da situação estar estável, dificuldades financeiras ainda são enfrentadas.

— Apesar de parecer que existe um resultado positivo na instituição, o Estado está com uma dívida de mais de R$ 10 milhões com o Complexo de Saúde e o Município com cerca de R$ 2 milhões. Apesar do resultado econômico (resultado contábil) ser positivo em R$ 6,9 milhões em 2018, a situação financeira (dinheiro em caixa) é totalmente diferente. Devido às essas ausências de pagamento do Estado e do Município o fluxo de caixa não é positivo. Demonstra total falta de conhecimento de gestão o edil dizer que a superintendência afirma ter lucro. Isso nunca foi dito — relatou o hospital.

A instituição ainda se declarou aberta para receber a visita dos vereadores para que os investimentos sejam verificados.

— Evidenciamos ainda que, salvo os vereadores Dr. Delano Santiago, Renato Ferreira e Janete Aparecida, o hospital nunca recebeu a visita dos demais. Nenhum outro parlamentar voltou à atenção para a instituição com o intuito de nos auxiliar — informou ao Agora.

Momento de apoio

O Complexo de Saúde ainda ressaltou ver com estranheza os posicionamentos no discurso dos vereadores.

— Não só o Complexo de Saúde, mas também a população sente uma estranheza na postura dos nobres parlamentares, uma vez que, ao invés da Câmara dos Vereadores se voltar para o hospital com o intuito de ajudá-lo a prestar assistência de qualidade e acessível a todos, ela se volta contra o único mecanismo de saúde de alta complexidade que a região Centro-Oeste de Minas Gerais possui, como se inimigo fosse —afirmou.

Ainda na nota encaminhada, o CSSJD destacou que, em razão da saúde financeira do hospital, o momento é deveria ser de apoio.

— O ideal seria que os vereadores unissem forças para nos ajudar a encontrar mais soluções, para melhor atendermos a população e não ficarem contra a única instituição que presta assistência ao Sistema Único de Saúde (SUS) em Divinópolis — ressaltou

Processo e apoio

O vereador Matheus Costa (CDN) também declarou seu apoio à fala dos colegas sobre o tema.

— Nós estamos aqui para defender o povo, e não instituições — afirmou Matheus.

Ele ainda também classificou como covarde a atitude do hospital em decidir, como anunciado na nota do dia 13, que iria processar Josafá por suas declarações.

No documento, o CSSJD definiu o discurso de Josafá no dia 5 de setembro na Câmara, que abordou as mesmas críticas apresentadas nesta terça, como “irresponsáveis” e que “demonstra grande desconhecimento” sobre o processo administrativo e legal da saúde pública. Ainda segundo o hospital, Josafá produziu e divulgou “juízo de valor depreciativo com relação ao Complexo de Saúde São João de Deus”. Considerando irresponsável o discurso do vereador, além de ofensivo à imagem do hospital, o CSSJD anunciou que tomaria as medidas cabíveis contra o vereador, inclusive no âmbito criminal. A nota ainda afirma que a fala do vereador excedeu o direito à liberdade de expressão.

Em resposta ao Agora, o CSSJD informou que dará prosseguimento ao processo, uma vez que considera as declarações do mesmo infundas.

— Os vereadores têm todo o direito de continuarem com as críticas, afinal o direito a liberdade de expressão está previsto na Constituição Federal de 1988. Porém, as declarações do edil Josafá são infundadas e por isso a instituição manterá a proposição de ação judicial contra o mesmo — informou.

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