Clínica São Bento Menni corre o risco de parar atendimentos

Com dezenas de usuários na fila de espera, entidade tem déficit mensal de R$ 80 mil

Flávio Flora

Com um déficit de R$ 80 mil mensais, o Centro Integral de Saúde São Bento Menni, de Divinópolis – entidade mantida pelas Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus – pode interromper suas atividades, como recentemente ocorreu em outra localidade.

De 2014 a 2016, o déficit acumulado chegou perto dos R$ 1,8 milhão, atribuídos aos baixos valores das diárias pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (R$ 49,70 por pessoa/ dia contra um custo mínimo de R$ 183,00), o que vai inviabilizando o seu funcionamento. A tabela do SUS não teve reajustes nos últimos oito anos.

A reportagem do Agora foi recebida, ontem, pelos dirigentes da instituição, quando expuseram a situação crítica e relataram a luta diária das irmãs, diretores e colaboradores para garantir o funcionamento nos padrões de qualidade e assistência como é a tradição das religiosas.

 Sinal de alerta

 Há 15 dias em Divinópolis, a irmã Lourdes Vieira integrou-se à diretoria, e acendeu a lâmpada amarela de alerta:

— Quando reflexiono sobre a conjuntura da clínica, eu tenho pensado que as reflexões têm quem ser operacionalizadas, porque o tempo corre, as situações se complicam e a congregação vai tomando posição também. Não dá para esperar mais, pois a situação vai chegando ao um nível tal de complexidade em que, ao final, é difícil superar.

Da conversa com os diretores extrai-se que há um caminho a ser seguido pelo gestor municipal que é elaborar novo contrato e rever os valores, de modo que possa garantir o pleno funcionamento da clínica.

O diretor-gerente Wallace Augusto de Almeida constata que o problema da instituição é o subfinanciamento do SUS, que não condiz com a realidade dos custos hospitalares praticados no Brasil. A defasagem é grande.

— O grande problema está no município, que deve fazer esse trabalho de elaborar novo contrato e homologar pelo Estado a nova forma de financiamento, para que seja possível reiniciar o atendimento — ressaltou Almeida.

 As dificuldades de responder à demanda também foram comentadas pela assistente da diretoria, Kellen Pereira dos Reis, para quem a situação fica cada vez mais difícil, à medida que demora, e o momento atual não é animador, com o Centro correndo sério risco de fechar.

Contrato vencido

O contrato com o Sistema Único de Saúde (SUS) venceu em junho de 2016 e foi prorrogado por sete meses, finalizando em 2 de janeiro último. Até então, cerca de 70% dos internos eram do SUS. Desde dezembro, os pacientes do SUS já não podem ser aceitos por real impossibilidade operacional, admitindo-se apenas usuários ou pacientes com cobertura de planos de saúde. 

Hoje a capacidade de ocupação do Bento Menni está reduzida pela metade (a pouco mais de 50 pacientes das 114 vagas), mas ainda assim, os gestores tentam manter diuturnamente uma dedicada equipe de saúde mental composta de médicos, equipe especial de enfermagem, farmacêutico, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionista, assistentes sociais eprofissional de Educação Física.

Solução duradoura

Nas primeiras semanas de janeiro, foram realizadas duas reuniões com o secretário municipal de Saúde, Rogério Barbieri, com a finalidade de encontrar uma solução mais duradoura. Segundo o diretor Wallace Almeida, duas medidas são consideradas essenciais para a viabilidade do Centro: o aumento dos valores da diária e a introdução de novas técnicas e tratamentos que permitam resultados mais rápidos e eficazes.

Com esse expediente, as oportunidades de tratamentos e internações se ampliam, podendo acolher as mais de 100 pessoas de várias cidades do Centro-Oeste cadastradas e selecionadas pelo médico clínico do programa SUS Fácil.

 Tribuna da Câmara

 O vereador Zé Luiz da Farmácia (PEN), na reunião de ontem, levou o estado de alerta para a tribuna da Câmara e conclamou as autoridades regionais a dar mais importância a essa organização de saúde mental:

— Conclamo a todos os prefeitos e secretários de Saúde dos 54 municípios da região de cobertura do Bento Menni, os deputados federais e estaduais e o governo do Estado para solucionar esses problemas financeiros e recuperar a capacidade de atendimento. Precisamos combater e vencer o preconceito que ainda existe, de que a clínica só atende pacientes loucos, porque hoje ela atende pacientes alcoólicos, drogaditos, pessoas com quadro grave de depressão e idosos — enfatizou o vereador.

Nova direção

A Irmã Bernadita Bolaños Ahumada é a nova “animadora” das Irmãs Hospitaleiras em Divinópolis, e nesta missão, ela assume a direção superior do Centro em momento “muito grave, para o entorno, para o contexto da vida das pessoas que contam com a gente”, descreve a Irmã Lourdes.

— Não é este o nosso perfil, a política da congregação está vivendo uma crise condicionada por essa defasagem de recursos, com dezenas de pacientes sendo prejudicados por falta de atendimentos — ressalta.

O Centro Integral de Saúde São Bento Menni, de Divinópolis, foi fundado em 1980 para prestar assistência a portadores de transtornos mentais da região e cidades adjacentes de ambos os sexos, tanto no atendimento de urgência, como no ambulatorial, hospital dia e internação. Possui área verde de mais de 11.000 m2 entre jardins e hortas, e de 4.610 m2 de área construída especialmente projetada para uma assistência integral.

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