Carta de Ronaldo Brandão - II

Osvaldo André de Mello

 

 

Uma das grandes personalidades brasileiras que marcaram o século XX, Ronaldo Brandão foi um dos mestres que a vida me deu. Na carta, que hoje transcrevo, além de acertar detalhes para a vinda do espetáculo “Baal”, Brechet — e Baal foi José Mayer, que ele lançou nos palcos —, o homem de mil talentos nos dá uma notícia da cena cultural belorizontina:

“Osvaldo: aqui estão os clichês. Tenho outros, maiores, mas acho que causariam problemas gráficos aos jornais, exatamente pelo tamanho. Com estes três, dá para ir quebrando o galho, não? Você pode revezar e passar para todos os jornais os mesmos.

Novidades teatrais de BH: em cartaz uma peça de Brechet chamada ‘O Casamento do Pequeno Burguês’. Ótimo o espetáculo (foi dirigido pelo irmão de José Celso M. Corrêa) e com Renato Borghi muito bem. Mas simplesmente descobri (agora que estou muito ligado a Brechet) que a peça ‘não existe’. Certo. Trata-se de um pastiche da turma da Oficina, não informaram isso ao público, e assim quem vai ver não fica sabendo que a peça é uma mistura de ‘Ópera dos Três Tostões’ (cena do banquete do casamento) e de ‘Mahagony’. Fiquei chocado. Até as canções (lindas) da ‘Ópera dos Três Tostões’ foram enxertadas... Acho um absurdo!

“Marília Pera veio e fracassou com um show (fraco) chamado ‘Viva Marília’. Trinta pessoas na estreia, nenhuma flor para Marília. Bem feito, já que a equipe dela não fez a menor questão de promoção...

‘Pluft’ em cartaz. É muito bem feito, cantado e dançado. Já no 3º mês, sempre fins de semana. Quando ‘Baal’ for passar aí, o Márcio Machado, diretor de ‘Oluft’, vai comigo, e aí vocês poderão transar a peça dele também.

Estreou na Imprensa: ‘El Rey Seleuco’. A maior chateação do mundo (não é para pichar não), mas imagine uma comédia de Camões, toda falada em português quinhentista, sem troca de uma vírgula, o tempo inteiro... Realmente o T.U. tem de fechar ou mudar. Até Maria Olívia — tão boa atriz — se perde. Está em cartaz na Imprensa Oficial durante uma semana.

Em ensaios: ‘Frei Caneca’, direção de Jota Dângelo, para a turma do DCE Federal. estreia breve.

E ‘A Cantora Careca’, de Ionesco, já montada em BH há uns 20 anos atrás mais ou menos, por Carlos Kroeber, com Neusinha Rocha. Agora quem monta é José Antônio de Souza e no elenco estão Regina Reis (de ‘Pluft’), Mamélia Dângelo (mulher do próprio) Etienne Filho etc.

De palco é o que há. Cinema: voltou ‘Rocco’, que já vi mais de (imagine) 30 vezes, e vai passar em reprise o meu sempre amado ‘E o Vento Levou’. (....)” [email protected]

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