Carta aberta a Divinópolis,

Adriana Ferreira

À nossa querida cidade-irmã Divinópolis

Nasci em São José dos Rosas, zona rural de Santo Antônio do Monte, para os íntimos, Samonte.  Aos sete anos de idade, fui morar em Samonte, e, logo que mudei, os fogos de artifício entraram em minha vida. Até então, o sustento vinha unicamente do campo.

Pois bem, em Samonte as crianças não ficavam na rua sem ter o que fazer. Ricos, pobres, brancos, negros, mestiços, todo mundo fazia algo relacionado a fogos de artifício.

Dos sete aos 11 anos de idade, eu enchi “tabinha” (os palitos são colocados em uma prancha de borracha para serem mergulhados na pólvora e assim virar a parte que é acesa nos foguetes), amarrei cartucho (recebíamos os palitos que haviam sido mergulhados na pólvora, entretela, papel, barbante e cera) e enchi rodinha (numa roda de plástico colocávamos os cartuchos amarrados, todos virados para o mesmo lado, e na fábrica era inserida a pólvora, e amarrados para serem colocados nos foguetes). Uma vez prontos, os produtos estão aí para festejar a chegada do ano novo, a vitória do time do coração, as alvoradas, os dias santos e ainda há aqueles que soltam foguetes quando o time adversário perde jogando com outro qualquer, há também aqueles que soltam quando do nascimento de um filho, aniversário, casamento.

Sei que dirão: então é supérfluo! Nunca, jamais, porque a celebração da vida, do novo ano, bem como a luz, as estrelas que se formam no céu, a alegria, a beleza de um espetáculo pirotécnico não podem ser consideradas coisas supérfluas.

Sei que dizem: e os idosos? Os portadores de algum transtorno? Os animais? Afirmo que nos preocupamos com eles. Sim! Nós nos preocupamos com eles, não somente com os de Divinópolis, mas de todo o Brasil, e também, principalmente, com aqueles que dependem dos fogos para sua sobrevivência e sobrevida, e eles não estão apenas em Samonte e região. Isso sem contar a geração de empregos diretos e indiretos.

Samonte, irmã de Divinópolis, tem aproximadamente 30 mil habitantes, desses, em torno de 20 mil dependem dos fogos de artifício diretamente, fora os indiretos. E ainda há as cidades do entorno que também são produtoras de fogos de artifício. Nossa região responde por 73% da demanda nacional e breve estaremos vendendo para a América do Norte e Europa. Em 2018, Minas Gerais recolheu mais de R$ 3,6 milhões de ICMS com o setor. E, para os desavisados, nós já estamos nos adaptando às exigências do mercado internacional, para podermos exportar cada vez mais.

Sim, o mundo quer celebrar com fogos santantonienses porque, depois da China, inventora da pólvora, somos nós os maiores produtores de fogos de artifício do mundo. E pensar que eles inventaram a pólvora no século I e nossa Samonte só tem 145 anos. Então estamos anos-luz à frente. Nossa economia depende praticamente da indústria de fogos, claro que não descartamos o setor agropecuário, mas o nosso forte é o setor pirotécnico. Nós nos orgulhamos de ser a Capital dos Fogos de Artifício.

Pois é, querida irmã, o projeto de lei 01/2020 de autoria do vereador Ademir Silva (PSD) é inconstitucional, pois, conforme disposto nos artigos 21, inciso VI e 22, inciso XXI da Constituição Federal, a competência para legislar sobre a matéria é da União. Assim, o equívoco do nobre vereador em querer legislar matéria de competência exclusiva da União tem feito com que pessoas ataquem Samonte de forma injusta. Do jeito que falam dos acidentes no setor pirotécnico parece que somos um cenário de guerra, e, pelo princípio da isonomia e pela lógica, seria preciso que exigissem a cassação de 90% das carteiras de habilitação. Mas é preciso destacar que, a cada ano, temos investido cada vez mais em segurança.

Nosso prefeito, Dinho do Braz, visitou a sua Câmara Municipal nesta segunda-feira, 13, não para pressionar, e não ignorou o princípio de divisão e autonomia dos poderes, mas, sim, para humildemente pedir que os vereadores e a população reflitam sobre o assunto. O projeto de lei, embora inconstitucional e com poucas chances de sucesso, tem feito pessoas atacarem Samonte como se fosse uma máquina mortífera. Nada disso. Convidamos a todos a conhecer nossa cidade e as fábricas de fogos. Estamos caminhando para as exigências do mercado, mas não temos como fazê-lo na velocidade da luz sem causar um impacto trágico na economia da cidade e região. É preciso cautela! Agradeço imensamente por tudo que fez e tem feito por mim e pelos meus familiares, todos seus eleitores e esperamos que a sabedoria e a razoabilidade sejam o norte sempre. Assim, sem qualquer ligação com sindicatos da categoria, sem qualquer interesse eleitoreiro, peço à querida irmã de Samonte que reveja seus conceitos e nos dê o tratamento merecido. Não estamos negando o progresso, mas apelando para o bom senso, como diz a música.  Afinal, nós também movimentamos diretamente a economia em Divinópolis, tanto para bens quanto para serviços.

Assim, minha querida Divinópolis, ouso dizer que verdadeiros irmãos não procuram destruir uns aos outros. Verdadeiros irmãos amparam uns aos outros. Contamos com sua compreensão e discernimento.

Cordialmente,

Adriana Ferreira

 

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