Candidata do PSL em Divinópolis pedia voto para o marido nas redes sociais

Outra concorrente, do mesmo partido, foi a única com zero voto na cidade

Ana Laura Corrêa

Núbia Daniela, concorrente a uma vaga na Câmara de Divinópolis pelo Partido Social Liberal (PSL), fazia propaganda em seu perfil no Facebook para o marido, Willian Gontijo, também postulante ao Legislativo pelo mesmo partido. A candidata teve cinco votos.

‘Os meus candidatos’

As publicações traziam, junto a fotos e vídeos do marido, frases como “Vote 17.001”, “Os meus candidatos, pessoas boas, idôneas, honestas, que querem o melhor para Divinópolis. 17.001 Willian Gontijo vereador e 51 Sgt Elton e Fernando Malta”.

Uma das publicações de Núbia Daniela em apoio ao marido (Foto: Reprodução/Facebook)


‘Questão pessoal’

A reportagem entrou em contato com Núbia Daniela para saber o que a motivou a se candidatar e como foi a campanha. 

— Eu não tenho nada para responder, não — afirmou.

Questionada sobre o fato de ter pedido votos para o marido em sua página no Facebook, Núbia Daniela disse:

— Eu não tenho nada pra responder, não. É uma questão minha, pessoal, tá bom? 

A reportagem insistiu, perguntando se ela não queria fazer nenhuma declaração. A candidata apenas respondeu “Não, obrigada” e, logo em seguida, desligou o telefone.

(Foto: Reprodução/Facebook)

Publicações apagadas

Na última quinta-feira, 19, um dia após o contato com a candidata, a reportagem voltou ao perfil de Núbia Daniela no Facebook e as publicações que expressavam apoio a Willian Gontijo desapareceram da página.

Uma das publicações que desapareceram do perfil da então candidata (Foto: Reprodução/Facebook)

Conforme publicado pelo Agora em 11 de novembro, Willian Gontijo foi um dos oito candidatos ao Legislativo em Divinópolis que receberam auxílio emergencial. O então concorrente declarou um patrimônio de R$ 525.200,00 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, de acordo com a reportagem, recebeu duas vezes o auxílio.

Zero voto

Em Divinópolis, sete candidatos tiveram menos de dez votos  – cinco mulheres e dois homens. A maior parte  – quatro  –  é do PSL, incluindo uma mulher com nenhum voto.

A candidata com zero voto é Amanda Padilha (PSL). O perfil no Instagram da concorrente ao Legislativo encontrado pela reportagem não é atualizado desde agosto – portanto, sem qualquer menção a campanha política.

O Agora também entrou em contato com Amanda. Após a primeira ligação, em que foi questionada quanto à campanha, ela pediu que a reportagem retornasse em alguns minutos, mas não atendeu mais. Pelo WhatsApp, se limitou a dizer:

— Não gostaria de me pronunciar. Após dar o nome à disposição me aconteceram várias coisas pessoais.

PSL em Divinópolis

Também foi solicitado ao presidente do PSL em Divinópolis, o empresário Fernando Malta, um posicionamento do partido sobre as duas candidaturas – de Núbia Daniela e Amanda Padilha. 

— Eu desconheço, até porque não peguei os resultados, e essa que pediu voto para outro eu também desconheço — disse à reportagem na quarta-feira, 18.

Menos de dez votos

Outros candidatos que tiveram menos de dez votos foram: Andryessa (PSL) - 1 voto; Renata Costa (Avante) - 3 votos; Lu do Restaurante (PL) - 3 votos; Jhonantan Padre Eustáquio (PSL) - 6 votos; e Paulinho (PL) - 9 votos.

Justiça Eleitoral

À reportagem, o promotor eleitoral Marco Antônio Costa informou que ainda não foi recebida nenhuma denúncia relativa às candidaturas de Núbia Daniela e Amanda Padilha.

— Não tem nada sendo apurado, não, porque o interesse maior é do próprio partido, né? O simples fato de a pessoa ter tido zero voto ou um voto não é indicativo de que tenha havido algum tipo de fraude. (...) Até agora nós não sabemos, até mesmo porque gente está trabalhando aqui com as questões relativas à eleição e nem nos preocupamos em olhar quem teve quantidade “x” de votos, quem teve quantidade “y” — disse.

Denúncia

Em 4 de outubro de 2019, o ministro do Turismo do governo de Jair Bolsonaro e então presidente do PSL em Minas, Marcelo Álvaro Antônio, e outras dez pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público de Minas Gerais por envolvimento em esquema de desvio de recursos por meio de candidaturas de fachada (“laranjas”) nas eleições de 2018.

Segundo informou à época o promotor de Justiça Eleitoral Fernando Abreu, candidatas mulheres foram cooptadas e receberam propostas para que se candidatassem e, durante a campanha, promovessem o pagamento de despesas eleitorais de outros candidatos, como uma forma de burlar o repasse de recursos do fundo eleitoral e beneficiar outras candidaturas, bem como a legislação eleitoral que assegura pelo menos 30% de candidaturas femininas nas eleições.

Mais de um ano depois, a Justiça ainda discute se o ministro de Bolsonaro vira réu – o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes analisa pedido da defesa para anulação de toda a operação.

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