Campanha reforça importância da doação de órgãos

Da Agência Minas

A importância da doação de órgãos ganha reforço em setembro. O apelo é ainda mais forte neste ano de pandemia, em que o MG Transplantes registrou queda de 27% em órgãos doados em comparação ao primeiro semestre do ano passado. 

De janeiro a agosto foram doadas 363 córneas, 43 escleras, 127 medulas ósseas, 340 rins, 32 corações, 6 fígados/rins, 88 fígados, 11 rins/pâncreas e 3 pâncreas. Um total de 1013 órgãos, contra1539 doações no mesmo período de 2019. A queda em Minas Gerais, no entanto, é bem menos expressiva que em outros estados do país, como os das regiões Norte e Nordeste. 

O diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado Junior,  responsável por coordenar a política de transplantes de órgão e tecidos em Minas Gerais, explica que o baixo número de doações coincide exatamente com o período da pandemia do coronavírus.

— O afastamentos social impediu as pessoas de saírem às ruas e, com isso, refletiu na diminuição do número de acidentes e traumas em 45%, além das pessoas terem contraído menos doenças em geral.

Ele explica, ainda, que muitos possíveis doadores tiveram que ser excluídos. 

— Pessoas com qualquer suspeita de doença respiratória eram, automaticamente, excluídas da possibilidade de ser doador, independentemente do quadro ter sido relacionado à covid-19. 

Campanha 

Omar afirma que o Dia Nacional de Doação de Órgãos, comemorado em 27 setembro, e a campanha Setembro Verde podem ajudar nesse processo.

— A campanha é importante exatamente para conscientizar e sensibilizar a população sobre a necessidade da doação de órgãos. É preciso conversar sobre o assunto com família e amigos, afinal uma única pessoa pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de até 11 pessoas que estão na fila de espera por um órgão. Se acrescentarmos os tecidos como pele, ossos, tendões e valvas cardíacas, esse número sobe para dezenas —, ressalta o diretor do MG Transplantes. 

Isso porque, no caso de doador falecido, podem ser retirados para transplante até dois rins, dois pulmões, duas córneas, intestino, fígado, pâncreas, coração, pele, ossos e tendões.

Atualmente, 4.572 pessoas aguardam na fila para realizar o transplante de algum órgão, em Minas Gerais. A maior espera é para o transplante de rim, com 2863 pessoas na fila, seguida pelos 1545 pacientes que necessitam de córnea e pelos 53 que aguardam transplante de fígado. 

Desafios

O Brasil possui o maior sistema público de transplantes no mundo, sendo responsável, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), pelo financiamento de cerca de 92% dos procedimentos. Além disso, o país é o segundo em número absoluto de transplantes, ficando atrás somente dos Estados Unidos. 

No entanto, os números poderiam ser ainda melhores se os familiares autorizassem as doações. Atualmente, cerca de 30% das famílias recusam a retirada de órgãos para a doação. No Brasil, só quem pode autorizar a doação de órgãos são os parentes até segundo grau, ou seja: pai ou mãe, filhos, avós, netos ou cônjuges.

— Por isso, é tão importante expressar, para os parentes mais próximos, a vontade de ser um doador — afirma Omar. 

Além da autorização familiar, algumas outras questões também podem dificultar a doação, como explica o diretor.

— Além da solidariedade das pessoas para autorizarem a doação, os principais desafios no processo são a identificação de possíveis doadores nos hospitais e a realização do protocolo de morte encefálica. Além disso, neste momento da pandemia, é necessária a realização de uma série de exames para evitar a transmissão do coronavírus.

Vida nova

Diagnosticado com as doenças que colocaram dois órgãos em falência, Valter Gonçalves Franco, de 70 anos, recebeu dois transplantes após uma espera de oito meses e de uma mais breve, de apenas 15 dias.

— Agora, me sinto muito bem novamente, feliz, ganhei peso e não sinto mais nenhum mal estar — conta ele, que diz que o principal é não desistir.

— Quem está guardando na fila deve ter fé e paciência, que vai dar tudo certo. 

Deu certo também para João Pereira de Magalhães, 67 anos, transplantado de córnea há mais de 11. Ele conta a sua experiência e se diz muito satisfeito com o resultado.

— Sou portador de ceratocone (alterações na transparência e curvatura da córnea que podem comprometer a visão) e precisei fazer o transplante de córnea. A cirurgia foi um sucesso. Antes, eu tinha 12 graus de miopia, hoje tenho apenas 1,75. Minha qualidade de vida melhorou muito — conta.

Ele ainda aproveita para chamar atenção dos familiares para uma reflexão.

— Os familiares que não autorizam a doação devem pensar que aquele órgão será perdido, não terá mais utilidade. No entanto, quando as famílias têm a generosidade de autorizar a doação, ela estará perpetuando a vida daquele indivíduo, fazendo com que ele dê sua contribuição à sociedade, à humanidade, melhorando a qualidade de vida de muitas pessoas e até salvando vidas. 

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