BO sobre ‘invasão’ ao Crevisa inclui acesso a documentos
Ricardo Welbert
A Sociedade Protetora dos Animais de Divinópolis (Spad) criticou nesta sexta-feira, 23, a denúncia que a Prefeitura fez contra duas voluntárias da entidade na quarta-feira, 21. Segundo o governo, elas invadiram o Centro de Referência de Vigilância em Saúde (Crevisa), tiraram fotos de animais mortos em uma área de acesso restrito e publicaram as imagens na internet, gerando comoção. O Agora apurou junto a uma fonte da Prefeitura que documentos foram revirados na sala do veterinário, que não estava no local.
Em nota publicada no Facebook, a Spad repete a versão de que, na noite de terça-feira, 20, foi chamada para socorrer um cachorro da raça dálmata que chorava de dores em um terreno no Niterói. Sem conseguir resgatar o animal na mesma noite, duas voluntárias se dispuseram a fazer isso durante a manhã. Porém, foram informadas de que o cão já havia sido levado por uma equipe do Crevisa.
— Assim sendo, Iris Moreira, diretora conselheira da Spad, que já estava agendada para ir ao Crevisa buscar informações sobre o funcionamento daquele local, acompanhada por outras duas protetoras que testemunharam os fatos, foi ao Crevisa para cumprir o agendamento — acrescenta a entidade.
De acordo com a presidente do Spad, Josiane Barreto Assunção, as duas voluntárias encontraram os portões do Crevisa abertos.
— Foram todas muito bem recebidas por Marcelo Gonçalves, diretor do Crevisa, que respondeu a todos os questionamentos de Iris Moreira e as acompanhou em todas as instalações, inclusive abrindo o freezer com o cão dálmata que estava por cima de um freezer lotado de cães. As fotos foram tiradas na presença do coordenador, que não as advertiu em nenhum momento — afirma.
Ainda segundo a Spad, naquele instante Iris ainda não sabia do pedido de resgate do dálmata e, por isso, chegou a confundir a carcaça dele com a de outro que havia sido coletado no bairro Liberdade.
— Elas pediram acesso aos laudos que teriam justificado o sacrifício daqueles animais, mas tiveram o pedido negado. O servidor disse a elas que só o veterinário responsável, que estava ausente do local, poderia fornecer essas informações — detalha.
As voluntárias resolveram verificar o que havia em um freezer e viram que o equipamento estava cheio de cães. Segundo a Aspad, os animais eram filhotes que nasceram na Crevisa e que pareciam estar saudáveis no dia 9 de março, quando Iris esteve no local.
— Desta vez, eles estavam ali em sacos plásticos, congelados. Elas fotografaram os corpos e enviaram as fotos a outras protetoras. Em momento algum, o servidor público do Crevisa que as acompanhava disse que elas não poderiam fotografar os cadáveres congelados — ressalta.
Procurada novamente pelo Agora nesta sexta-feira, a Prefeitura informou que o servidor Marcelo Gonçalves Manço, que trabalha no Crevisa, encontrou as representantes da Spad quando chegou para trabalhar.
— Como já estavam dentro do Crevisa, o servidor acompanhou as defensoras. Na visita supervisionada, o servidor confirmou que as representantes não tiraram fotos. Outro servidor presenciou as defensoras dos animais na sala do médico veterinário, sem acompanhamento de nenhum servidor. O boletim de ocorrência foi registrado e explica os detalhes da invasão ao Crevisa — informou a Prefeitura, por meio de nota.
Conforme a reportagem apurou, os detalhes da invasão incluem o relato de um acesso não autorizado à sala do veterinário do Crevisa, que não estava no local. O Agora apurou com uma fonte ligada ao governo que o consultório teria sido revirado. Documentos teriam sido encontrados fora do lugar, mas nenhum teria sido furtado. A Aspad nega.
Divulgação
A entidade justifica a divulgação das fotos argumentando que a atitude serviu para dar satisfação pública a todos que cobravam informações sobre os cães.
— O pedido de resgate do dálmata foi feito no Facebook da Aspad. Portanto, é matéria de domínio público. Não houve qualquer ilegalidade na divulgação das imagens — pontua.
Poucas horas após a repercussão das imagens na imprensa, outra entidade ligada à defesa dos direitos dos animais em Divinópolis se posicionou sobre o caso. Amanda Lopes, que integra a organização não governamental Vida Animal, afirmou que é parceira da Prefeitura, mas discorda do sacrifício de animais não diagnosticados com leishmaniose visceral.
— Penso que o dálmata deveria ter tido a chance de ser salvo. Estamos enviando o pedido para que o Crevisa não recolha mais animais que não sejam para a análise e controle de leishmaniose. Eles já atenderam ao nosso pedido de não recolher mais filhotes, porque lá é contaminado e todos morriam. Tanto é que não recolhem mais — afirma.
A diretora de Vigilância em Saúde de Divinópolis, Janice Soares, disse que o Crevisa recorre à eutanásia somente nos casos de leishmaniose ou doença terminal. Amanda Lopes diz que também quer ver os relatórios com os resultados de exames que atestam o resultado positivo para a doença no caso dos cães.
Risco
Conforme o Agora informou, as fotos divulgadas na página da Spad foram deletadas poucas horas depois, após repercutirem. Ainda segundo a presidente da entidade, Josiane Assunção, foi uma medida preventiva.
— O caso tomou proporções inimagináveis nos meios de comunicação. Tendo percebido a possibilidade de ilegalidade nas circunstâncias que envolvem a morte dos animais, especialmente por veicularem explicações contraditórias por parte de uma pessoa que se diz “parceira” do Município em questões que envolvem a Crevisa, a Spad, de comum acordo com vários protetores independentes e a ONG [organização não governamental] Martins Proteção [que também havia publicado as fotos no Facebook], decidiu levar os fatos e as fotos às autoridades. Em respeito a isso, retirou temporariamente a publicação. Tão logo as autoridades permitam, publicará as que forem apresentadas — explica.
A presidente da Martins Proteção, Edimara Martins, disse ao Agora que comunicou o caso ao Ministério Público de Minas Gerais. O promotor Leandro Willi determinou que uma vistoria imediata fosse feita pela Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA) no Crevisa. Eles recolheram 12 cães.
— O objetivo é fazer análises técnicas adequadas em um laboratório na cidade de Formiga para verificarmos a veracidade ou não dessas informações sobre sacrifícios de animais. Os resultados poderão constatar se essas mortes ocorreram por causa da leishmaniose — explica o promotor Leandro Willi.
O deputado estadual Noraldino Junior (PSC), reconhecido defensor do direito dos animais, também foi acionado pela Spad. Ele pediu apoio ao Grupo de Repressão Unificada Contra Abuso e Maus-Tratos (Grucan), de Juiz de Fora, que encaminhou colaboradores a Divinópolis para verificar o caso.