Beleza integrada e integral

Antônio Oliveira

 

Associa-se à mulher o conceito de beleza. Beleza que deveria ser apreciada no conjunto. Mas inventaram, para a mulher, cremes de beleza para o rosto, para o pescoço, entorno dos olhos, para os seios, braços, para as mãos e coxas. Inventaram, dando a entender cada porção mulher como uma peça isolada. E dá-lhe maquiagem. Beleza postiça.

Na realidade, a mulher tem beleza própria, feminina, única, de conjunto, independentemente de ser mulher famosa ou não. Além disso, o conceito de beleza deveria incluir estilo de vida, caráter e personalidade, e modos de ser. Uma radiografia de corpo inteiro. Há mais de 50 anos, quando fiquei noivo, enumerei, de Isa, as seguintes qualidades: o físico, o sorriso, a musicalidade, a sensibilidade, a discrição, a sensatez, a jovialidade, o charme.

Com o passar dos anos, mantidos brancos os cabelos, meus e dela, isso não foi sinal de desmazelo. Pintar os cabelos de certa forma é contrariar o tempo, é forçar a volta aos tempos de juvenilidade. Por que não viver cada idade com ares de juventude e frescor de primavera? A mulher madura é, sim, capaz dessa madurez. Como? Sim, há controvérsias...

Não faz mal, aliás, faz bem, que eu continue pinçando imagens de Mia Couto, Antes de Nascer o Mundo: “A verdade era: a mulher me invadira como o Sol enche as nossas casas. Não havia modo de afastar ou impedir essa inundação, não havia cortinado que fechasse aquela luminosidade”. “... elas simplesmente sabem coisas. Inexplicáveis coisas.” É preciso temer a mulher. Conclusão de Mia Couto.

Dentre tantos poetas e escritores que idealizaram um mundo “povoado de donzelas ingênuas, virgens sonhadas, filhas do céu”, José de Alencar descreve Iracema como grande vestal consagrada, tão pura, a virgem dos lábios de mel. Apocalipticamente, dom Marcos Barbosa prenuncia: “Cairá como os ídolos do Egito/A estátua da mulher nua/Que oferece seu corpo aos homens que passam”. Cabelos de ouro e pés de barro. Tem de tudo.

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