Apenas remediado

Precisou que um vírus perigoso tomasse conta do mundo para que os governantes vissem a importância do Hospital Público Regional. Precisou que o Covid-19 espalhasse o caos para provar que o Brasil não está preparado para grandes epidemias. Aliás, isso não é grande novidade. Basta olhar o número de feminicídios e de mortes por dengue. Tudo é apenas “remediado”, nada é enfrentado, nada é combatido. Se as políticas públicas de saúde funcionassem como está no papel, talvez o Hospital Público já tivesse sido entregue, talvez ele já estivesse funcionando, talvez vidas já estivessem sendo salvas e talvez o número de mortes por dengue já teria diminuído. O coronavírus veio apenas para “esfregar” na cara do povo brasileiro que os governos falharam substancialmente. Que não há prevenção, não há enfrentamento, há apenas “remédios”, e não há “remédios” suficientes para todos.

Precisou de uma pandemia para que os nossos representantes constatassem a importância do uso correto do dinheiro público. O Centro-Oeste mineiro aguarda a entrega do Hospital Público Regional há oito anos. Em junho de 2020 faz 10 anos que a unidade de saúde começou a ser construída. A promessa era de que a obra seria entregue em 2012, prazo que depois passou para 2014, e, em seguida, 2016, mas hoje a construção se deteriora em meio ao tempo. Em abril faz exatos quatro anos que o Governo do Estado não manda um centavo para a obra. Ao todo já foram gastos R$ 60 milhões na construção, que está 60% pronta e deveria custar em torno de R$ 100 milhões. Hoje, o apelo do prefeito de Divinópolis, Galileu Machado (MDB), e dos representantes do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Região Ampliada Oeste (CIS-URG) ao governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é para que o Hospital seja utilizado parcialmente, para atender os pacientes com Covid-19.

É, parece que a terra não é plana, e ela deu uma volta, e uma volta daquelas. Quem diria que um hospital, que hoje está se deteriorando no tempo, tomado pelo mato, o verdadeiro retrato do descaso e do mau uso do dinheiro público, é “chorado” por políticos? Quem diria que um dia os ditos representantes do povo iriam se arrepender de não terem levado a obra como deveria ter sido feita? O coronavírus é, em muitos casos, letal, mas ele mais do que nunca está sendo necessário. Necessário para que os povos deem valor ao seu direito de ir e vir. Necessário para que os seres humanos coloquem em prática algo que já estava esquecido há muito tempo: a empatia. Necessário para que a população dê valor às coisas simples, como ir a uma loja comprar uma roupa. Necessário para que o povo enxergue a necessidade de se cobrar o uso correto do dinheiro público.

Pode ser que Zema aceite o pedido de Galileu e do CIS-URG, mas também pode ser que não. Pode ser que muitas pessoas morram à espera do atendimento médico adequado. Mas pode ser também que o jogo de empurra acabe logo, e os governantes enxerguem que qualquer dinheiro gasto com a saúde não é “gasto”, mas, sim, investimento, e é disso que o Brasil precisa: investimento, amor e empatia.

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