Amazônia negada

INOCÊNCIO NÓBREGA

Amazônia negada 

Praticamente sutil a participação do Sul na campanha pela autonomia política da ex-colônia, Brasil, de maneira que o Grito do Ypiranga de 1822 não empolgou seu incipiente progresso. Diferente nas demais regiões, especialmente Norte e Nordeste, onde a notícia do acontecimento chegou, embora com certo atraso, a algumas capitanias, obviamente em face da quilométrica distância, terrestre e fluvial, em relação ao centro político, Rio de Janeiro e São Paulo. Ela teve um efeito cascata, a partir da Bahia, que já esperava militarmente reagir a manobras de tropas portuguesas, comandadas pelo general Madeira, em seu território, o que culminaria com seu embarque forçado, no ano seguinte. Em Sergipe, Eloy Leite Sampaio, lusófilo de carteirinha, é destituído da presidência da Junta, em atendimento ao povo, que aclamava a Independência do Brasil. De Alagoas ao Ceará, já expulsas da comunidade lusa, não faltaram noites de festa em suas principais cidades, com a desassombrada atitude de Pedro I. Piauí, Maranhão e Pará conclamaram o fim do colonialismo, só o jornal Alberto Patroni lamentando a condução de um alienígena ao trono, o que, na sua visão, foi mero continuísmo.

A escassa população da Barra do Rio Negro, oficialmente, estava atrelada a Portugal, porém de olho no desenrolar das lutas independencistas do restante da Colônia. As informações, mais frescas e auspiciosas, provinham do Pará, pondo-lhe em estado de inquietação e de ansiedade. À Vila Nova (Serpa), no Baixo Amazonas, somente aportou no dia 9 de novembro de 1823, pondo em alvoroço os moradores do lugar – nos narra o historiador Bertino Miranda. Poucos dias depois, não apenas adere à SM Imperial como instala, em Manaus, a nova Câmara.

A opção amazonense tinha esse sentido, de acreditar nos nobres destinos do país que acabara de nascer, pondo à sua disposição uma das maiores riquezas do planeta, suas águas, solo e árvores bilenares, variadíssima flora, muitas lendas e mitos. Entretanto, a desilusão não demora a estampar no rosto de nossos patrícios do Amazonas, em parte atendidos com a criação, em 1953, do Plano de Valorização da Amazônia, e, posteriormente, da Sudam e do Finam, além de outros projetos suscitados. Foram medidas na verdade aquém do merecimento da grandeza do Norte, mas não se esperava que recentes governos da República promovessem a destruição, em larga escala, de suas madeiras e o morticínio de milhares de pessoas, pela negação a saúde dessa brava gente, no caso da covid-19. O nosso Amazonas, que tanto se esforçou para integrar à família brasileira e que provoca cobiça ao mundo, é vingado por um crime que nunca cometeu. 

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