Ainda morro disso...

Antônio Oliveira 

Platão é conhecido pela sua teoria do mundo das ideias. Essas ideias se constituem em arquétipos eternos das coisas visíveis. Esse seria o mundo real, do qual aquilo que existe constitui cópia de alguma ideia por natureza subsistente. Isso pode parecer fantasmagórico, mas ante a “realidade” do mundo virtual e das redes sociais, a gente acaba pensando até onde essa teoria seria esdrúxula. Somos dominados hoje por esse mundo semietéreo que flutua nas nuvens e que acaba por nos governar. Antes de governar, por eleger quem vai nos governar. Um mundo flutuante de ideias a direcionar nossas ações num mundo que achamos tão real. Tão diferente do mundo e do amor platônicos. Será?

Se quisermos viralizar uma ideia, basta dar-lhe uma roupagem virtual. Epa! Começam a surgir os embaraços. Vestir, revestir uma ideia. No nosso imaginário, roupa é substantivo concreto; ideia, abstrato. As “coisas”se vão complicando. Roupa não é concretude; roupa é uma abstração. Esta roupa, essa roupa, aquela roupa, sim, é que é concreta. Ninguém jamais viu a doença coronavírus andando por aí. Quem anda é a pessoa infectada pelo vírus. Isso tudo, posto assim numa crônica, parece de fundir a cuca. No entanto, todo o mundo lida, hoje em dia, com esses... Conceitos? Digamos que sim. Outro dia, um sobrinho meu, jovem, escreveu-me com toda a naturalidade: tio, estou seguindo seu perfil no Instagram...

Mas que mundo é esse? Este? Aquele? Na falta de melhores explicações, a gente acaba por brincar de pique com as palavras. Encosta o rosto na parede, cobre os olhos com as mãos, conta até dez e pronto... O dicionário que nos aguarde. E aí a questão é saber se palavras são palavras, nada mais que palavras... À teoria de Platão deu-se o nome de realismo exagerado; às palavras, vãs palavras, dizemos nominalismo. Se eu que estudei filosofia estou perdido e quem não estudou então? Sem fazer apologia da ignorância, pensar muito funde a cuca, dizia minha avó. Ainda morro disso...

 

[email protected]

Comentários