A Síria é aqui

Charles Guimarães 

Os vários bombardeios sobre a cidade de Damasco – ou em outras localidades da Síria – causam indignação na população mundial principalmente quando são veiculados vídeos e fotos de crianças atingidas pelos petardos. A situação teve um começo e nem os deuses sabem dizer quando termina. A ONU já declarou que o que está acontecendo na Síria é a pior crise humanitária do século XXl. Tudo porque o ditador Bashar Al-Assad se incomodou com as pichações de um grupo de crianças contra seu governo. Segundo ele, essas pestinhas tinham que estar estudando, jogando bolinha de gude, futebol ou atividades pertinentes à idade delas. Os pais e outros adultos não gostaram quando ele resolveu prendê-las. E desde 2011 esse imbróglio vem se arrastando com um saldo de aproximadamente 250 mil mortos. A tendência é que esse número aumente. Com um começo aparentemente meio nonsense, o conflito tomou proporções aterradoras.  Em defesa de seus interesses, facções de várias partes do planeta entraram na guerra. E o que era só pra ser o povo nas ruas lutando pela democracia – a tal Primavera Árabe – virou o extermínio de um povo desarmado. Afinal, outros países, ali das mediações, conseguiram depor seus ditadores. A Líbia, a Tunísia e o Egito que o digam. O buraco aqui é mais embaixo. É mais complicado. O Estado Islâmico aproveitou-se de um descuido do governo sírio e começou a atacá-lo. Afinal, era preciso aumentar seu califado. Os EUA, que até então só olhavam de longe, também entrou na dança atacando o E.I.. A Rússia, que não é boba nada, também atacou o Estado Islâmico, mas visando a fortalecer o governo de Bashar Al-Assad, que tem o apoio do Hezbollah. Daí a Al Qaeda entrou no meio porque não se entende com o Hezbollah. Ufa! Agora dá para entender a dimensão do problema? Doidões-bomba de todos os lados e precisando de créditos com Alá dão um contorno catastrófico ao conflito. Tem mais gente chegando, mas é melhor parar por aqui. No Brasil, uma tragédia já anunciada aos quatro ventos teve o seu desfecho logo no começo do ano. Prenúncio de que teremos um 2017 quente. Sessenta mortos no presídio de Manaus e 31 mortos no de Roraima. E o que não faltaram foram requintes de crueldades e facções. A Família do Norte, simpática ao Comando Vermelho, queria porque queria eliminar seus desafetos do Primeiro Comando da Capital. E eliminaram. Cabeças rolaram, literalmente. O governador falou que, entre os mortos, não havia nenhum santo. Arrependeu-se depois. Foi preciso indenizar as famílias dos mortos e, por fim, uma singela homenagem a esses bravos estupradores, assassinos, traficantes ou tudo ao mesmo tempo, para apaziguar os intelectuais de esquerda e as famílias dos heróis já mencionados. Afinal, santos ou não, eles estão sob a tutela do estado. Nós também estamos, mas não estamos confinados. Será? A discussão é longa e chata. O certo é que esses anjos estão se pegando por causa de rotas de drogas. Uma hegemonia só possível a troco de muito pó e sangue. E o povo desarmado no meio. A direita virou as costas, a esquerda passou a mão na cabeça e os debatedores de várias frentes se enfrentam na internet sem ninguém fazer nada de efetivo. Construir mais presídios? Um grande mutirão de juízes para analisar caso a caso dos detentos, o que aliviaria os presídios de 40% da sua população? Tergiversações. Interesses. Lá como cá, só Deus – ou Alá – diretamente na causa. 

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