A política segundo Renan

CHARLES GUIMARÃES

A palavra, político, aqui na terra do samba, sempre esteve associada a falcatruas, corrupções dentre outros adjetivos publicáveis ou não. A muita ginga de corpo. Mas, este ser humano que nos representa, na maioria das vezes, é talhado pelo seu próprio eleitorado. Por nós mesmos. Como assim? Explicações já! Alguns favores pessoais que fazem parte dos pedidos do eleitor ao seu candidato já estão ultrapassados como: caminhão de areia, botijão de gás, saco de cimento, dentaduras..., foram trocados por cargos públicos, facilitações em licitações, ou seja, coisas de muita monta. Benesses dirigidas para alguns em detrimento da grande maioria. Essa relação de promiscuidade abarca todos os postos da política. Sem preferência por partidos políticos. Do vereador ao presidente da república.  É o preço para teclar sim ou verde e confirmar. É o preço do nosso distanciamento quando o assunto é política. Não discuto política e pronto! Para o estudante de Direito, José Renan Vasconcelos Calheiros, os horizontes vislumbravam um futuro político, no mínimo, glorioso. Filho de família de classe média alagoana, estreou, logo de cara, como deputado estadual pelo MDB em 1978. Bom de lábia e de samba, já na eleição seguinte subia mais um posto, Renan das Alagoas agora era deputado federal. E como o céu é o limite, paparicou uns daqui, outros dali – e não importava a sigla – chegou a liderar a Câmara dos Deputados no governo Collor. Manteve-se firme na queda do presidente. Calado, não foi a favor nem contra, muito pelo contrário. Em 1998 se tornou ministro da Justiça de outro Fernando. Aquele do PSDB. Mas, a vontade de ser presidente da República deste imenso país ainda palpitava em seu peito. Fernando Henrique se foi e veio Lulinácio da Silva. O projeto petista nunca bateu com os do PMDB, mas os interesses se fundiam em um só: o Poder. Seja político ou financeiro. Penso que os dois estão interligados intimamente. Líderes se abraçam. Renan comandava o Senado, Lula o Brasil.  Os ideais petista precisavam de aprovações e Renan estava atravancando o processo. Como todo homem tem seu preço, ele deu o seu e o PT pagou. Ou melhor, as empreiteiras pagaram. E o “bichin” viu seu patrimônio multiplicar. Mas, no meio do caminho apareceram algumas pedras. Era preciso retomar a ginga, a malemolência. Até que uma daquelas pedras grandes fez o samba desse alagoano desafinar. Lava-jato é a pedra. Era preciso agir e foi o que fez o moço. Enquanto o país chorava e enterrava os mortos da tragédia da Chapecoense, A Câmara modificava e aprovava a Lei dos Fichas Sujas, tentando minar o poder dos “juizecos” intrometidos. A gritaria ecoou de norte a sul do país e o Supremo deu o veredito para que Renan se afastasse da presidência do senado nesta semana. E ao som de “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, o homem acabou ficando. Guerra entre os poderes? Com o fim da novela “Eduardo Cunha”, outra agora começa a se desenrolar. O núcleo principal agora passa a ser o Senado Federal e Renan, o grande vilão, promete arrastar para o precipício um amontoado de coadjuvantes conhecidos. Nas verdadeiras novelas de sucesso, o final sempre é determinado pelo povo. Afinal de contas, noveleiros ou não, quem paga a conta pelo mar de corrupção que aqui se instalou são os brasileiros que veem o seu sonho de pujança se esvair esgoto abaixo. [email protected]

 

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