A morte do ‘capitão’

Domingos Sávio Calixto

Crime organizado é organizado para não ser apurado por completo. Não é coisa do morro, nem de favela, nem de classe baixa nenhuma. Crime organizado é coisa do alto escalão e nele estão envolvidas pessoas como políticos, empresários, juízes, promotores, chefes policiais, líderes religiosos e, claro, a mídia dominante. Crime organizado não é para qualquer um – tem que ser pelo menos dono de helicóptero – é tudo devidamente sofisticado para não ser devidamente apurado, basta conferir as denúncias da Vaza Jato: nenhuma investigação devida.

         Como em uma democracia em vertigem, o atual cenário político do país, principalmente na órbita federal, está a favorecer amplamente ao crime organizado, tanto é verdade pela própria dificuldade de se noticiá-lo, notadamente pelo nível de banalidade com o qual é tratado pelas famílias midiáticas, o que não poderia ser diferente já que sua ocultação se lhe é intrínseco.

         No recente dia 9 de fevereiro deste ano, o “capitão” Adriano Magalhães da Nóbrega foi morto a tiros pela polícia, na Bahia. Ele era foragido e procurado pelo homicídio da vereadora Marielle Franco, muito embora o atual ministro da Justiça não o tivesse incluído na relação dos mais procurados do Ministério.

O “capitão” Adriano tinha ligações com a milícia, com o tal Fabrício Queiroz e com a família Bolsonaro, sendo apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como um dos líderes da organização criminosa miliciana conhecida por Escritório do Crime, cuja atuação envolve grupos de extermínio do Rio de Janeiro e da própria Bahia.

Parece insuspeito que quem mandou matar Marielle também tenha mandado matar o “capitão” e, evidentemente, está agora a festejar, pois se trata de uma morte que dificulta a apuração da outra.

         Em 2005, o então deputado Jair Bolsonaro usou a tribuna da Câmara Federal para enaltecer o “capitão” Adriano. Na época, Adriano estava respondendo por homicídio, e o mencionado deputado usou da palavra para elogiá-lo, alegando que ele tinha sido um “brilhante oficial e, se não me engano, o primeiro da Academia da Polícia Militar” (sic).

         Naquele mesmo ano, o deputado estadual Flávio Bolsonaro – outra coincidência – também homenageou e condecorou Adriano com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio.

         Outra coincidência é que, em 2007, a esposa de Adriano – Danielle – foi nomeada assessora de gabinete de Flávio Bolsonaro. A mãe de Adriano – Raimunda – também teve a feliz sorte de igualmente ser nomeada, e elas teriam recebido da Assembleia Legislativa R$ 1.029.042,48 e teriam repassado a Fabricio Queiroz (ele mesmo) a quantia de R$ 203.002,57. Queiroz também teria depositado (pelo menos) um cheque na conta de Michelle Bolsonaro, no valor de R$ 24.000,00.

Eduardo Bolsonaro foi à Bahia dois dias antes da morte do “capitão” Adriano. Ainda existem muitas outras indagações, inclusive cobradas por Ciro Gomes – junto ao ministro da Justiça - e até pelo próprio advogado do morto, que alegou “queima de arquivo” (...). Mas, por oportuno, será que algum dos homenageantes do “capitão” foi ao seu velório?

        

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