A dor do injustiçado

 Inocêncio Nóbrega                           

    O juiz abriga a Justiça. Ilusão quem assim pensa. “A Justiça mora no centro do injustiçado” – expressa a promotora Helena Barbosa, pois o juiz é um mero agente do direito, devendo estar acima das leis. É a materialização da alma, quando a promovemos.

         Tenho maior veneração pela Justiça. Devo a ela reparação de uma injustiça, cometida contra mim, no segundo ano de ditadura militar.  Por motivos meramente ideológicos. Sou grato à 1ª Câmara Cível do TJ/PB, por prolatar decisão favorável em tempos de chumbo, da era Médici, por unanimidade de votos, assegurando-me o direito à nomeação a que fiz jus por concurso público.

         Muitos, como eu, gostariam de ter um magistério desse quilate, de desembargadores fortes e independentes; um Poder Judiciário  sobranceiro,  último reduto de confiança do povo brasileiro. Apequenam, pondo-o em situação de suspeita, seus dirigentes se atendem a chamamentos de grupos econômicos alienígenas, aos liames, de qualquer espécie, a cúpulas governantes.  Magistrados precisam honrar as togas que vestem, em nome da boa conduta, renunciando à opulência monetária e aos privilégios vãs, pois é um exercício sacerdotal.

         Infelizmente, não é de agora, o Judiciário foi alvo de tantas denúncias, de corrupção de juízes, nepotismo, venda de sentenças e outras que o presidente do Senado, ACM, determinou seus auxiliares as catalogassem. Pasmem, cinco mil!  Relembrando um vigilante jornalista, de que o notório Lalau não é uma excrescência isolada.

         Pobre Judiciário, que lidera com o Congresso Nacional e o Poder Executivo a lista das instituições menos confiáveis do Brasil, numa trágica harmonia entre si. Sentencia outro arguto comentarista: “Tribunais políticos, despreparados e de tendenciosidade de seus eventuais membros, são instâncias únicas, cujas decisões andejam ao sabor de correntes políticas”. Há muitos que o defendam, atribuindo seus tropeços à ausência de controle externo. Concordo, conquanto que esse desvio de rumo não se corrija por uma legislação casuística, e sim vinda da sociedade, seja através da mídia ou pelo uso das ruas. Fazermos um Judiciário capaz de resguardar a Constituição, coibindo parcialidades claras de seus membros, em manifestas decisões, vezes por vingança, as quais só fazem inflamar o sentimento de injustiça nos cidadãos.

         Revertamos sua imagem, dele se exigindo a correção de suas falhas e a depuração dentre milhares de seus guardiães. A Suprema Corte deve fazê-la, a bem de sua própria integridade ética e moral. Sigam o exemplo de seus colegas da Paraíba, cuja Justiça venceu o canhão! Para mim, só a História pode curar a dor do injustiçado.

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